Título: Para os fundos de hedge, o momento é do Brasil
Autor: Scheller, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/04/2011, Negócios, p. B14

do The New York Times - Dez anos atrás, o Goldman Sachs proclamou que o Brasil estava entre as novas potências econômicas. Agora, ele é a próxima fronteira de fundos hedge.

Procurando capitalizar o rápido crescimento da região, gestores de fundos de hedge globais aportam no Brasil. Os maiores players do setor estão atraindo talentos, abrindo escritórios e comprando empresas locais - tudo parte de um esforço mais amplo para expandir o alcance de seus investimentos.

Marko Dimitrijevic, fundador do Everest Capital, um fundo de hedge de mercados emergentes baseado na Flórida que supervisiona US$ 2 bilhões, diz que "tudo indica que o futuro é agora para o Brasil." No final do ano passado, o Highbridge Capital do JPMorgan Chase comprou participação majoritária no Gávea Investimentos, fundo de hedge brasileiro. Brevan Howard, um dos maiores fundos de hedge europeu abriu escritório no País.

O primeiro Hedge Fund Brasil Forum, conferência setorial realizada no Hotel Copacabana no Rio de Janeiro, atraiu centenas de participantes, incluindo representantes de empresas de primeira linha como Paulson & Co. e SAC Capital Advisors.

Ao todo, os ativos de fundos de hedge destinados à região cresceram 75%, para US$ 21,4 bilhões, em 2010, segundo dados do Hedge Fund Research.

É o velho receituário para fundos de hedge. Assim como empresas se instalaram em Hong Kong para entrar no lucrativo mercado chinês há uma década, elas estão usando o Brasil como cabeça de ponte para o resto da América Latina. A Hedge Fund Association fincou bandeira oficial do setor, estabelecendo um capítulo regional com um posto avançado no Brasil.

O apelo é óbvio. Enquanto muitos países desenvolvidos rateavam em meio a um crescimento econômico fraco, o Brasil prosperou, dadas sua rica reserva de recursos naturais e crescente classe média. No ano passado, o Produto Interno Bruto do País cresceu 7,5%. "Nos últimos cinco anos, cerca de 34 milhões de brasileiros entraram na classe média", disse Oscar Decotelli, sócio da Vision Brazil Investments. Isso para uma população de 200 milhões é significativo. O Brasil não é apenas uma economia de commodities, mas uma economia doméstica forte.

Ênfase. O País pode se beneficiar de uma mudança de ênfase em países em desenvolvimento. Choveu dinheiro para a China e o restante da sua região nos últimos anos, provocando temores de que a região fosse uma bolha pronta para estourar. A Ásia, tirante o Japão, responde pela metade dos ativos de fundos de hedge dedicados a mercados emergentes. Por comparação, a América Latina representa 11%.

"As pessoas estavam mais otimistas com os mercados asiáticos nos últimos dois a três anos porque tudo parecia estar indo no mesmo caminho", disse Anurag Bhardwaj, diretor de consultoria estratégica no Barclays Capital . "Os investidores estão procurando outros mercados menos correlacionados, mas com bons fundamentos, e o Brasil se encaixa nessa categoria."

Mesmo assim, a região enfrenta ventos contrários. Apesar de a América Latina ter saído relativamente bem da crise econômica global, analistas estão ficando cada vez mais preocupados com a inflação. O banco de investimento Goldman Sachs reduziu suas projeções de crescimento para o Brasil para 2011 e 2012.

Os investidores estão preocupados de que a torrente de dinheiro novo que inunda o mercado possa acarretar retornos menores. Nos últimos cinco anos, o índice MSCI Latin America avançou anualizados 13% - o melhor desempenho de qualquer região de mercados emergentes.

"Como diz aquela máxima famosa? Se o motorista de táxi está falando de um investimento, você sabe que é hora de vender", disse Decotelli, da Vision Brazil. Mas Decotelli acha que o Brasil e o restante da América Latina ainda estão no começo de uma história de crescimento. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK