Título: Líder do Iêmen diz que troca renúncia por fim de protesto
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Fonte: O Estado de São Paulo, 04/04/2011, Internacional, p. A13

SANAA - O presidente iemenita, Ali Abdallah Saleh, sobreviveu ontem a mais um domingo de protestos por todo o país. Em Taiz, no sul do Iêmen, milhares de pessoas foram às ruas pedir sua renúncia. A polícia atacou os manifestantes com gás lacrimogêneo, cassetetes e balas, matando dois dissidentes e ferindo mais de cem.

Saler, No poder há 32 anos, ele declarou ontem que está disposto a negociar uma "transferência política do poder" e pediu o fim dos protestos à oposição. Foi a primeira declaração do presidente depois do pedido da oposição, feito no sábado, para que ele deixe o poder e seja substituído pelo vice-presidente, com o qual negocia a transição.

No fim de semana, os protestos retornaram com força a Omã. O governo anunciou ontem a libertação de 57 opositores em Sohar, no norte do país. Na sexta-feira, uma pessoa havia morrido na cidade em manifestações que pediam a justamente a liberdade desses dissidentes.

O sultão Qaboos Bin Said governa o país desde 1970, mas tem enfrentado forte oposição desde fevereiro, quando a onda de protestos no mundo árabe chegou a Omã. Até o momento, os manifestantes exigem o fim da corrupção, mas ainda não questionam a autoridade do sultão. Em março, Qaboos anunciou uma profunda reforma ministerial para responder às críticas e anunciou a criação de 50 mil empregos. Segundo analistas, os protestos do fim de semana sugerem que as mudanças não foram suficientes.

Na Síria, milhares de pessoas acompanharam ontem os funerais de oito manifestantes mortos na sexta-feira em protestos na cidade de Duma. Para acalmar os ânimos, o presidente Bashar Assad atribuiu ao ex-ministro da Agricultura Adel Safar a tarefa de formar o novo governo.

Os opositores, entretanto, anunciaram novas manifestações para esta semana, depois que a internet foi cortada por seis horas e as comunicações por telefone celular foram dificultadas - o governo alega que as restrições foram em razão de uma "sobrecarga na rede".

"Enterramos oito mortos em Duma. Há outros três manifestantes mortos em aldeias vizinhas de Arbin e Sbinah", disse Mazen Darwiche, diretor do Centro Nacional de Informação e de Livre Expressão, proscrito desde 2009.

Segundo Darwiche, "dezenas de milhares de pessoas participaram dos funerais, gritando palavras de ordem, cantos em homenagem aos mártires e exigindo maior liberdade política". Muntaha al-Atrash, porta-voz de uma ONG síria de direitos humanos, assegurou que "as manifestações continuarão". "O povo não ficará mais em silêncio porque caiu a barreira do medo", disse.

Autoridades do Bahrein proibiram ontem a circulação do Al-Wasat, principal jornal de oposição do país, em mais um grande esforço para calar a mídia antigoverno e reprimir a oposição xiita em um país governado pela minoria sunitas.

O governo do Bahrein endureceu os controles sobre a internet e a mídia após semanas de protestos contra a monarquia. "Essa é uma tentativa de silenciar as notícias independentes no Bahrein", afirmou Mansur al-Jamri, editor-chefe do Al-Wasat.

O rei do Bahrein, Hamad Isa al-Khalifa, declarou estado de emergência em março e passou a reprimir violentamente os protestos da maioria xiita. Temendo o mesmo destino das autocracias na Tunísia e no Egito, a monarquia bareinita pediu ajuda militar à Arábia Saudita.

O envio de tropas sauditas fez o Irã, país dominado por uma teocracia xiita, afirmar que Riad estava "brincando com fogo". No fim de semana, o governo da Arábia Saudita respondeu e acusou o Irã de interferência em assuntos dos países do Golfo Pérsico. Ontem, o Parlamento iraniano exigiu que os sauditas retirem suas tropas do país. / REUTERS, AP e AFP