Título: Gasto com juros sobe 35% no bimestre
Autor: Graner, Fabio ; Fernandes, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/04/2011, Economia, p. B6

Setor público gastou R$ 38,39 bilhões com juros nos dois primeiros meses do ano; inflação e juros em alta estão pressionando as contas

A inflação e os juros em alta estão pressionando as contas públicas. O setor público (composto pela União, Estados, Municípios e empresas estatais) gastou R$ 38,39 bilhões com juros no primeiro bimestre deste ano, montante recorde para o período e 35,2% superior ao verificado em janeiro e fevereiro de 2010.

O superávit primário (economia para pagamento de juros), mesmo melhorando significativamente no início do ano e atingindo R$ 25,66 bilhões, não foi suficiente para cobrir a salgada conta de juros. Dessa forma, o déficit nominal (que mostra o resultado de todas as receitas e despesas do setor público, incluindo juros) aumentou e atingiu R$ 12,73 bilhões no bimestre, o correspondente a 2,09% do Produto Interno Bruto (PIB) - ante 1,67% do PIB no período de janeiro e fevereiro de 2010.

O chefe do departamento econômico do Banco Central, Túlio Maciel, atribuiu o aumento da conta de juros à expansão da dívida pública, ao aumento dos juros e também à alta da inflação, que remunera cerca de um terço da dívida.

De acordo com os números divulgados ontem pelo Banco Central, o resultado primário do setor público atingiu R$ 108,09 bilhões nos 12 meses encerrados em fevereiro, o maior nível desde novembro de 2008, quando as contas ainda refletiam o desempenho econômico do País antes da crise financeira internacional. O saldo está cerca de R$ 10 bilhões abaixo da meta fiscal definida para o ano, que é de R$ 117,9 bilhões.

Mas a diferença para a meta, de fato, é bem maior, já que o resultado em 12 meses ainda leva em conta a manobra contábil feita pelo Tesouro com a Petrobrás, que rendeu R$ 31,9 bilhões aos cofres do governo.

Ou seja, o governo precisa levar o saldo de 12 meses nos próximos meses para um nível significativamente acima do atual, já que precisará compensar a saída de cerca de 1% do PIB de superávit primário em 12 meses, o que ocorrerá em dezembro. É essa situação que ajuda a sustentar a desconfiança de muitos analistas do mercado financeiro sobre o compromisso do governo de cumprir sua meta, hipótese que o Banco Central leva em conta em sua estratégia de combate à inflação.

Confiança. Apesar de o quadro ainda não ser de exuberância das contas públicas, Túlio Maciel, procurou transmitir um discurso de confiança da autoridade monetária com o cumprimento da meta de superávit.

Segundo ele, o resultado das contas do setor público em fevereiro (que registrou superávit primário de R$ 7,91 bilhões, o melhor do mês na série) foi muito bom e mostra um retorno à normalidade para o cumprimento da meta.

Para referendar essa mensagem, o chefe do Depec destacou que 21,8% da meta de superávit do ano já foram feitos no primeiro bimestre. No início do ano passado, o quadro era outro: apenas 15,2% da meta tinham sido alcançados. Em 2009, ano do impacto da crise financeira, o desempenho do primeiro bimestre era ainda pior, com 13,5% da meta atingidos.

"Estamos retornando à trajetória de normalidade", disse Maciel, destacando que alguns itens das despesas do setor público estão crescendo abaixo PIB e que as receitas têm aumentado como reflexo do crescimento econômico do Brasil.

Ele previu uma melhora maior do resultado nos próximos meses. Segundo ele, o governo já considera nessa trajetória de 12 meses que em setembro os dados vão piorar com a retirada da receita extra de R$ 31,9 bilhões da capitalização da Petrobrás. "Isso já está previsto e considerado na conta", afirma o chefe do Depec.