Título: Bancos da Irlanda vão precisar de ? 24 bi
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/04/2011, Economia, p. B9

Teste de estresse mostra que instituições vão ficar sob tutela do Estado, diz ministro

Mais uma má notícia para a economia da União Europeia. O Banco Central da Irlanda anunciou ontem que quatro instituições financeiras do país precisam de mais ? 24 bilhões para sanear suas contas e evitar a falência.

A conclusão foi tirada dos testes de estresse feitos pela autoridade monetária nos bancos Allied Irish Bank (AIB), Bank of Ireland (BoI), Irish Life & Permanent e EBS. O buraco nos balanços das instituições representa 15% do Produto Interno Bruto (PIB) da Irlanda.

Ontem, os títulos dos quatro bancos negociados nas Bolsas de Dublin e Londres foram suspensos, o que aumentou os rumores de estatização do sistema financeiro do país. O governo já detém fatias importantes dos bancos, incluindo 36% do BoI.

Em resposta, o ministro das Finanças Michael Noonan anunciou que as instituições passarão para a tutela do Estado durante a recuperação. Além disso, o executivo insinuou que o mercado financeiro também será implicado no salvamento. "O fardo não pode ser apenas do contribuinte", afirmou, sugerindo que "novas contribuições importantes" virão de investidores.

A decisão tem um componente político muito forte e leva em conta o fato de que os mesmos bancos haviam absorvido ? 45,8 bilhões em um programa de salvamento criado em 2010. A cifra empurrou o déficit público do país para 32% do Produto Interno Bruto (PIB), obrigando o governo a recorrer ao Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FESF) e ao Fundo Monetário Internacional (FMI) para evitar o calote.

Segundo nota do Banco Central Irlandês, a soma é "enorme, mas ainda coberta pelo programa de socorro".

Portugal. Em Portugal, onde a crise é ainda mais aguda, o governo anunciou ontem que o déficit público chegou a 8,6% do PIB no ano passado, 1,3 ponto porcentual acima do previsto. Em reação, o ágio cobrado por títulos da dívida pública com validade de 10 anos subiu a 8,3%, contra 8% da quarta-feira. Para obrigações de cinco anos, a taxa chega a 9,4%. Em Washington, a porta-voz do FMI classificou a situação do país de "difícil", mas afirmou que o demissionário primeiro-ministro José Sócrates não protocolou nenhum pedido de pacote de socorro.

O presidente de Portugal, Aníbal Cavaco Silva, dissolveu o Parlamento ontem e marcou eleições para 5 de junho. Sócrates permanecerá como governo interino até as eleições.

França e Holanda. Nem todas as notícias vindas da Europa ontem foram negativas. O Instituto Nacional de Estatísticas (INSEE) da França anunciou que o país reduziu seu déficit público mais do que o previsto em 2010. A meta estabelecida pelo governo era de 7,7% do PIB, mas o índice acabou fechando em 7% - uma economia de ? 6 bilhões em relação às contas de 2009.

A cifra é importante porque revela que a inversão da tendência de alta aconteceu com um ano de antecipação, além de sugerir que o pior do déficit no país pode já ter passado.

A boa notícia da França também se verificou na Holanda, a sexta maior economia da UE. O país cumpriu suas metas e conseguiu estancar o déficit, que fechou em 5,4% do PIB em 2010.

Tamanho do rombo

15% é quanto do Produto Interno Bruto representa o buraco das instituições irlandesas

? 45,8 bi é quanto os mesmos bancos receberam de socorro em 2010