Título: Dengue tipo 4 chega ao interior de SP
Autor: Bassette, Fernanda ; Siqueira, Chico
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/04/2011, Vida, p. A20

Vítima - uma mulher com menos de 40 anos, moradora de um bairro de classe média alta de São José do Rio Preto - não precisou ser internada e já voltou a trabalhar; uma semana antes de apresentar os sintomas, ela viajou para uma cidade vizinha

O vírus tipo 4 da dengue está circulando no Estado de São Paulo pela primeira vez. O caso confirmado da doença aconteceu em São José do Rio Preto, a 438 km da capital, e foi anunciado ontem pela Secretaria de Estado da Saúde.

A primeira vítima do vírus 4 foi uma mulher com menos de 40 anos que mora em um bairro de classe média alta da cidade e não viajou para fora do Estado nem do País nos últimos meses. Ela esteve em uma cidade vizinha uma semana antes de apresentar os sintomas da doença.

A mulher adquiriu a forma clássica da dengue, não ficou internada e já voltou a trabalhar. As amostras de sangue da paciente foram analisadas pelo Instituto Adolfo Lutz e deram positivas para dengue 4 em exames de prova e de contraprova.

Segundo Vítor Maniglia, secretário de Saúde de Rio Preto, nenhum dos familiares da mulher contraiu a doença. "Trata-se de um caso isolado, o único registrado naquele bairro, o que reforça nossa suspeita de se tratar de um caso importado", afirmou.

São Paulo agora engrossa a lista de Estados com casos confirmados desse tipo de vírus: Pernambuco, Roraima, Pará, Amazonas, Rio de Janeiro e Bahia. Esse vírus foi reintroduzido no Brasil em 2010, depois de 28 anos sem circulação no País.

Risco. Segundo Clélia Aranda, coordenadora de Controle de Doenças da Secretaria da Saúde de São Paulo, como há um novo tipo de vírus circulando, há mais pessoas suscetíveis a desenvolver a doença. Ao contrário do que se pensa, aqueles que já adoeceram por causa dos outros subtipos (1, 2 ou 3) não ficam imunes ao tipo 4 do vírus.

"Existe um risco maior de infecção porque as pessoas nunca foram expostas a esse tipo de vírus e há um risco aumentado de uma segunda infecção, que normalmente se manifesta de maneira mais grave", diz Clélia.

"É uma situação nova e é claro que preocupa. A população não está imune a esse subtipo do vírus", diz Giovanni Guido Cerri, secretário de Estado da Saúde.

Embora haja circulação confirmada do tipo 4 no Estado, a secretaria diz que não deve acontecer uma epidemia desse subtipo neste ano. "A sazonalidade da transmissão já não está mais no pico. A curva epidemiológica costuma declinar ao final do primeiro trimestre", afirmou Clélia.

Ela diz que em 2010 houve a circulação dos tipos 1, 2 e 3 da dengue no Estado, mas 90% dos cerca de 180 mil casos confirmados eram referentes ao tipo 1.

De janeiro até o fim de março, a secretaria registrou 10,3 mil casos de dengue no Estado - 94% menos do que no primeiro trimestre de 2010, quando foram confirmados 108,2 mil casos.

Os sintomas da dengue 4 não são diferentes dos demais subtipos: incluem febre alta, dor no corpo, dor de cabeça, cansaço, indisposição, enjoo, vômito, dor nas articulações e algumas manchas vermelhas na pele.

Diagnóstico. Todos os pacientes suspeitos fazem um exame de sorologia para confirmar se estão ou não contaminados pelo vírus da dengue. Mas apenas uma parte das amostras de sangue - em geral dos casos graves ou de óbito - é encaminhada para o exame que classifica o tipo exato do vírus. "É um exame de isolamento viral, mais sofisticado, que exige coleta e transporte diferenciados", diz Clélia.

Mesmo assim, o secretário de Rio Preto diz que a cidade vai fazer o isolamento viral de todos os casos positivos da doença para detectar se realmente não há outros casos. Até então, apenas a dengue do tipo 1 havia sido diagnosticada no município.

Ações de combate. A estratégia de prevenção e as ações de combate continuam as mesmas. O Estado está comunicando os municípios para que estejam atentos a novos casos.

Em Rio Preto, as equipes fizeram operações de bloqueios mecânicos (visita em domicílios para busca ativa de criadouros) e químicos, por meio de nebulização de inseticida, na região onde a mulher que foi infectada mora.

Além disso, a secretaria estadual iniciou ontem a semana de combate à dengue - 25 mil agentes foram mobilizados para alertar a população sobre a importância de eliminar criadouros.

"Serão distribuídos folhetos explicativos nos pedágios e foi realizada uma parceria com uma operadora de telefonia celular para envio de mensagens de texto. Cerca de 80% dos focos de transmissão estão dentro das casas das pessoas", diz Cerri.

Segundo Clélia, o uso de repelente como forma de proteção individual pode ajudar a evitar a contaminação, mas não bloqueia a transmissão do vírus.

Prevenção

CLÉLIA ARANDA COORDENADORA DE CONTROLE DE DOENÇAS DA SECRETARIA

"O repelente pode provocar uma falsa sensação de proteção e ele não bloqueia a transmissão."