Título: Melhora de rating é surpreendente
Autor: Modé, Leandro ; Xavier, Luciana
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/04/2011, Economia, p. B1

A Fitch elevou o rating soberano do Brasil em um nível, de BBB- para BBB, alegando a rápida recuperação da economia no pós-crise e os sinais recentes de contenção fiscal. Ainda que destacando alguns riscos, como o inflacionário, o upgrade, neste momento, é no mínimo surpreendente. Os recentes sinais do governo na política econômica e também na relação com o setor privado sugeririam cautela e tempo para uma melhor avaliação dos sinais emitidos pelo novo governo.

Do lado da política econômica, temos: a) Um Banco Central que está minimizando as expectativas de inflação do mercado e os riscos relacionados ao quadro inflacionário. Mais propensa ao risco, a autoridade monetária prefere uma política de tentativa e erro, com o uso de medidas macroprudenciais e juros, para trazer a inflação para a meta; b) Um câmbio que está mais próximo de ser fixo do que flutuante, o que é incompatível com o regime de metas de inflação e c) Uma política fiscal inconsistente, com cortes de gastos, de um lado e capitalização do BNDES em R$ 55 bilhões para investimentos, de outro. Tal inconsistência da política fiscal, inclusive, dificulta a tarefa do BC em esfriar a economia e trazer a inflação para o centro da meta.

Vale ressaltar que diante de tais sinais de incompatibilidade de política e desconfiança no discurso do BC, o mercado vem elevando suas projeções de inflação para 2012, o que eleva o risco em relação ao quadro inflacionário.

Do lado da relação com o setor privado, pode-se destacar as demonstrações de interferência na gestão de grandes companhias, como no caso da Vale. Além da pressão realizada para a substituição do presidente, há também rumores de taxação do minério para forçar a empresa a investir em siderurgia. Assim, temos sinais de que este governo tem a visão de que o setor privado deve se ajustar aos seus interesses.

É neste contexto, inclusive, que se torna pouco provável o cenário de aprovação de reformas estruturais que permitiriam avanço significativo no crescimento potencial brasileiro. Nesta linha, vale dizer também que o novo governo ainda não apresentou nada de concreto em termos de agenda/planejamento para os próximos anos.

Em suma, embora não deixe de ser uma boa notícia, o upgrade é surpreendente em meio aos sinais recentes. De qualquer forma, vale aguardar os próximos passos das demais agências de risco, que, em nossa avaliação, deverão ser mais cautelosas para promover tal movimento.

É ECONOMISTA E SÓCIA DA TENDÊNCIAS CONSULTORIA INTEGRADA