Título: Alta da nota do Brasil pressiona câmbio
Autor: Modé, Leandro ; Xavier, Luciana
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/04/2011, Economia, p. B1

Agência Fitch eleva classificação da dívida brasileira e aumenta possibilidade de entrada de dólares; especialistas esperam mais medidas do governo

A agência de classificação de risco de crédito Fitch, uma das mais respeitadas do mercado global, melhorou ontem a nota do Brasil - de BBB- para BBB. Na prática, significa que, segundo os analistas da empresa, o País ficou ainda mais seguro para receber investimentos. Com isso, a expectativa é de que mais dólares venham para cá, o que tende a valorizar o real, movimento que preocupa o governo.

"Mas é melhor ter esse problema do que como era no passado, quando faltavam dólares", ponderou o ministro da Fazenda, Guido Mantega. A moeda americana encerrou a segunda-feira cotada a R$ 1,609, queda de 0,19%. É o valor mais baixo desde 8 de agosto de 2008.

"Não houve nada de anormal hoje (ontem), mas, nos próximos dias, é provável que o Brasil atraia ainda mais recursos do exterior por causa da mudança da nota pela Fitch", observou um operador de câmbio que pediu para não ser identificado.

Outros especialistas esperam para os próximos dias mais medidas do governo para tentar segurar a alta da moeda brasileira. O Ministério da Fazenda teme que o real valorizado prejudique a indústria, na medida em que estimula as importações.

A Fitch é a primeira entre as três principais agências de classificação de crédito a elevar o chamado rating do Brasil depois que o País entrou no grupo conhecido como grau de investimento.

Duramente criticadas por seu papel durante a crise global dos últimos anos, essas agências trabalham com escalas de classificação. A partir de um determinado ponto, as empresas e os países avaliados são considerados quase livres de risco de calote. No primeiro semestre de 2008, a Fitch e a Standard & Poor"s colocaram o Brasil nesse grupo. De lá para cá, o País ainda não havia sido promovido de novo.

"Fomos encorajados (a promover o Brasil) pelo fato de que o governo de (Dilma) Rousseff tem dado sinais de contenção fiscal", afirmou à Agência Estado a diretora sênior de ratings soberanos para América Latina da Fitch, Shelly Shetty.

Outras agências, como a Standard & Poor"s, esperam mais notícias positivas na área fiscal para elevar de novo o Brasil. "Desde a promoção anterior, o Brasil evoluiu em algumas áreas, retrocedeu em outras. Na fiscal, não avançou a ponto de ter a nota melhorada novamente", disse o analista da S&P responsável pelo País, Sebástian Briozzo.

Por meio da assessoria de imprensa, a Moody"s, a outra grande do setor, informou que vai rever o rating do Brasil no segundo trimestre. Como a perspectiva para a nota do País é positiva, a revisão deve ser para melhor.

Com a mudança de ontem, o Brasil se iguala, na escala da Fitch, a nações como Rússia e Lituânia. E fica à frente de Índia, Peru e Grécia, entre outras. Em compensação, continua atrás de Irlanda e Espanha, dois dos países europeus que estão no centro de uma crise de confiança.