Título: Murilo Ferreira é o substituto de Agnelli na Vale
Autor: Friedlander, David
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/04/2011, Economia, p. B5

Indicado pelos acionistas da companhia, executivo era o candidato preferido de Dilma SÃO PAULO - Os controladores da Vale escolheram ontem o executivo Murilo Ferreira como o próximo presidente da Vale, maior empresa privada do País e segunda maior mineradora do mundo. Ele vai substituir Roger Agnelli, que em julho completaria dez anos na presidência da companhia.

+ ampliar Beto Novaes/Estado de Minas-10/2/2005Murilo Ferreira dirigiu subsidiária da Vale no CanadáFerreira é ex-funcionário da Vale. Trabalhou na companhia duas vezes. Na última, de 1998 até 2009, quando presidia a Vale Inco no Canadá. Problemas com os sindicatos locais, que mais tarde culminaram numa prolongada greve, contribuíram para que o executivo tivesse problemas de saúde e deixasse a empresa.

Segundo fontes que acompanham o processo, Ferreira era o candidato da presidente Dilma Rousseff. Os dois se conheceram quando o executivo era presidente da Albrás, fabricante de alumínio, e Dilma era ministra das Minas e Energia. Como a Albrás é grande consumidora de energia e Ferreira é especialista no assunto, os dois estiveram reunidos várias vezes e trocavam informações sobre o setor.

A escolha de Murilo já era aventada entre os controladores, mas não deixou de ser uma surpresa. O favorito era Tito Martins, diretor executivo e atual presidente da Inco. José Carlos Martins, diretor executivo de Estratégia, Vendas e Marketing, também corria por fora.

Formalmente, o nome de Ferreira deve passar pelo conselho de administração da Valepar, holding que controla a Vale, e precisa ser aprovado pelo novo conselho de administração, que será aprovado em assembleia de acionistas marcada para 19 de abril. No mês que vem, o conselho, renovado, sacramenta a escolha dos acionistas. Na prática, ele já é o novo presidente da Vale.

Independência. Depois do tumultuado processo de substituição de Agnelli, resultado da pressão do governo para tirá-lo do cargo, o mercado passou a se perguntar qual o grau de independência que terá o próximo presidente da Vale. Com lucro de R$ 30 bilhões no ano passado e R$ 24 bilhões no orçamento para investir neste ano, a mineradora exerce um poder de atração gigantesco sobre os políticos.

O governo tenta atrair a Vale para o mal ajambrado consórcio criado pelo Planalto para construir a Hidrelétrica de Belo Monte, que já está atrasada. Antes disso, ainda na gestão Lula, forçou a mineradora a anunciar a construção de siderúrgicas - algo que nem os empresários da siderurgia estão fazendo neste momento. Finalmente, para agradar prefeitos de municípios mineradores, o Planalto tenta forçar a mineradora a pagar uma conta de R$ 4 bilhões em royalties - que ela não reconhece e discute na Justiça.

"A Vale precisa contribuir mais fortemente com os interesses do País", disse ontem o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. Para o governo, embora seja uma empresa privada, com capital aberto e milhares de acionistas, a Vale precisa estar mais sintonizada com seus planos para o País.

O governo exerce forte influência na mineradora por meio de um grupo de fundos de pensão liderados pela Previ (dos funcionários do Banco do Brasil) e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que são acionistas da empresa. Os outros dois controladores são o Bradesco, pela Bradespar, e a trading japonesa Mitsui.

Por tudo isso, o próximo presidente da Vale precisará ter jogo de cintura suficiente para harmonizar interesses da companhia com as demandas de Brasília. Agnelli não teve essa habilidade.