Título: Recuperação global é frágil, diz FMI
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/04/2011, Economia, p. B9

Strauss-Kahn, diretor-gerente, disse que a coordenação política atual talvez não seja suficiente para abordar os problemas econômicos

A recuperação da economia mundial ainda é frágil, desigual e "obstruída por grandes incertezas", disse ontem o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, durante discurso na Universidade George Washington.

A autoridade afirmou que nos países ricos, o crescimento econômico é muito baixo enquanto o desemprego continua alto. Segundo Strauss-Kahn, a maneira gradual como a Europa está lidando com a crise de dívidas soberanas está agravando a situação na região, ao mesmo tempo em que os preços elevados das commodities, a redução na receita e nos investimentos das empresas estão ameaçando a reestruturação do Oriente Médio.

As declarações de Strauss-Kahn foram feitas na véspera da divulgação de um compêndio de regras do FMI sobre fluxos de capital. O diretor-gerente da instituição alertou para o fato de a imposição de controles e a acumulação de reservas internacionais não resolverem os dilemas econômicos causados por esses ingressos.

As medidas adotadas, ponderou Strauss-Kahn, somente devem ser levadas adiante de forma temporária, de curto prazo, e com uma perspectiva pragmática, jamais ideológica.

"Francamente, posso entender os países que dizem não poder ficar imóveis e que aplicaram durante um curto período algum tipo de controle (de capitais)", afirmou. "Mas isso não resolve os seus problemas econômicos básicos e tem de ser adotado sob um ponto de vista pragmático, não pode ser ideológico."

Hoje, a apenas uma semana do início da sua reunião anual de Primavera, o FMI lançará uma espécie de guia com o exame dos diferentes casos de países beneficiados por volumosos ingressos de capitais nos últimos dois anos. Entre os analisados estará o Brasil, onde os fluxos provocam valorização do real e já levaram à adoção de medidas de controle, como a elevação do Imposto sobre Operações Financeiras.

Papel do Estado. No novo cenário econômico mundial gerado pela crise de 2008, segundo Strauss-Kahn, o Estado terá papel "um pouco mais" relevante do que o mercado, pelo fato de a crise ter aumentado o fosso entre ricos e pobres e ter sido provocada, em parte, pela ausência de maior regulação.

Numa espécie de reconhecimento de erro, Strauss-Kahn indicou ter havido negligência na avaliação do setor financeiro e, em especial, dos seus efeitos sistêmicos. Para ele, a globalização das trocas de produtos e serviços deu sua contribuição à economia mundial, ao retirar centenas de milhões de pessoas da pobreza. A globalização financeira, ao contrário, mostrou um "lado obscuro: um grande e crescente fosso entre ricos e pobres". / COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Causa silenciosa

DOMINIQUE STRAUSS-KAHN DIRETOR-GERENTE DO FMI

"A desigualdade poderá ter sido uma das causas silenciosas da crise."

"No conjunto, a situação econômica ainda é frágil e desigual e enfrenta instabilidade."