Título: Aécio estreia com criticas à gestão fiscal
Autor: Samarco, Christiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/04/2011, Nacional, p. A6

Pela primeira vez na tribuna, senador mineiro atacou `gastança descontrolada¿ de Dilma e do PT

BRASÍLIA - O primeiro discurso político do senador Aécio Neves (PSDB-MG) nesta quarta, 6, na tribuna do Senado durou exatos 25 minutos, mas mobilizou o plenário por cerca de quatro horas. Aécio, um dos nomes mais cotados da oposição para disputar o Palácio do Planalto em 2014, criticou particularmente o PT e a gestão Lula (2003-2010). Segundo ele, "entre os interesses do País e a conveniência do partido, o PT escolheu o PT".

Ele abriu o discurso, que se propunha a dar rumo à oposição, reforçando seu perfil de "homem do diálogo que não confunde agressividade com firmeza, nem adversário com inimigo". Mas foi duro nos ataques ao que nomeou de "desarranjo fiscal que penalizará investimentos anunciados com pompa e circunstância e à farra da gastança descontrolada", especialmente em ano eleitoral, que faz "renascer a crônica e grave doença da inflação".

Em vez de focar nos 100 dias do governo Dilma, preferiu tratar do conjunto da administração petista que inicia seu nono ano. Fez reparos à "subordinação das agências reguladoras ao governo central, ao aparelhamento e inchaço do Estado brasileiro e ao governismo que avança sobre empresas privadas". "Nada disso é interesse do País."

O tucano cobrou iniciativa do governo em favor das grandes reformas, como a tributária, e propôs desonerar as empresas de saneamento e as contas de luz. Também falou em recompor as transferências federais para Estados e municípios e sugeriu a criação do sistema Simples Trabalhista, como forma mais eficiente de atender as demandas das micro e pequenas empresas do que a criação do ministério para o setor, como fez Dilma.

Choque de realidade. Aécio destacou também ser preciso enfrentar o "continuísmo das graves contradições". "Cessadas as paixões da disputa eleitoral, o Brasil precisa de um choque de realidade", afirmou. Para o ex-governador de Minas, a oposição à gestão Dilma deve se embasar em três pilares: "coragem, responsabilidade e ética".

Apesar da consistência do discurso de nove páginas, nem petistas nem o próprio José Serra (PSDB), que estava no plenário, avaliaram, ao final, que a fala de Aécio deu "rumo" à oposição. "Foi uma contribuição", afirmou Serra. "Foi uma tentativa de organizar a oposição que ficou mais para um chá da tarde", disse Gleisi Hoffmann (PT-PR).

Saia-justa. Pela primeira vez, líderes do PT também reconheceram de público as virtudes do governo tucano de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).

Em meio à troca de elogios, quem ficou na berlinda foi Serra, candidato derrotado a presidente em 2002 e 2010. Ele estava em Brasília desde anteontem e compareceu ao Senado a convite do próprio Aécio, o que provocou estranheza em parte dos tucanos, pois ambos disputam o poder no comando do partido.

Diante da firmeza do senador mineiro em defesa da herança tucana de FHC, das privatizações ao Proer (programa que atendeu o sistema financeiro), foi Serra quem acabou cobrado. "Não vi essa contundência em grandes debates com o eleitor. Em 2002 e 2010 Serra não me pareceu muito convicto em defender o legado de FHC", afirmou Gleisi. Aflito com a citação sem direito a resposta, Serra chegou a acenar para o presidente José Sarney (PMDB-AP). O líder da bancada petista, Humberto Costa (PE), elogiou o discurso do mineiro. Para ele, Aécio é "o melhor quadro da oposição" ao governo.