Título: Combate na Líbia chega a impasse, diz França
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Fonte: O Estado de São Paulo, 07/04/2011, Internacional, p. A14

Chanceler francês admite vender armas para que rebeldes superem tropas de Kadafi

O conflito entre forças leais ao regime de Muamar Kadafi e insurgentes líbios caminha para um "impasse militar". A avaliação foi feita ontem por Alain Juppé, chanceler da França, um dos países que lidera a coalizão.

Segundo ele, depois de destruir 30% do poder de fogo das Forças Armadas líbias, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) enfrenta dificuldades para atacar, pois o regime agora usa veículos e armas mais leves e mistura-se à população civil, usando-a como escudo.

A admissão de que os enfrentamentos na Líbia podem não levar à solução do conflito veio após dez dias de impasse no campo de batalha. No leste, grupos pró e contra o regime se enfrentam nos arredores do porto de Brega, a 790 quilômetros de Trípoli, sem que nenhum dos dois grupos consiga avançar. No oeste, rebeldes seguem sitiados em cidades como Zintan e Nalut.

"No terreno, a situação militar é confusa e indefinida, e o risco de estagnação existe", afirmou Juppé, em entrevista à rádio France Info. O chanceler francês definiu o conflito como "difícil", mesmo ponderando que, desde o início dos bombardeios, as coisas evoluíram, porque "grande parte dos aviões, helicópteros e canhões de Kadafi foi destruída".

Diante do impasse, Juppé não descartou nem mesmo a possibilidade de fornecer armas aos rebeldes, assunto que vem sendo debatido há algum tempo, mas que ainda não é consenso entre os países da coalizão.

"Há um embargo de armas destinadas à Líbia, ou seja, às tropas de Kadafi. Logo, não há embargo de armamentos destinados à oposição", argumentou Juppé. O fornecimento de armas, entretanto, provoca controvérsia até mesmo no interior do governo francês, já que o ministro da Defesa, Gérard Longuet, considera que a medida está em desacordo com as resoluções 1970 e 1973 da ONU, que autorizaram a ofensiva.

O chanceler francês também afirmou que pediria uma reunião com o secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, para discutir a ação militar na cidade de Misrata. Ontem, rebeldes realizaram em Benghazi um protesto contra a aliança atlântica, alegando que os bombardeios perderam o ritmo desde que o comando dos ataques foi passado dos EUA para a Otan, há seis dias.

Massacre. A crítica mais forte recai sobre a situação de Misrata, terceira maior cidade da Líbia, há 40 dias nas mãos dos rebeldes, mas que há várias semanas sofre um cerco das tropas de Kadafi. Desde então, mais de 200 pessoas teriam morrido, duas delas na terça-feira, quando o regime teria bombardeado o centro urbano durante sete horas.

A cidade está sem água, luz e sem alimentos. Há relatos de falta de produtos básicos, como leite. "Se a Otan esperar mais uma semana, será o fim de Misrata. Nós não encontraremos ninguém na cidade", afirmou o general Addel Fattah Younis, líder militar dos rebeldes.

À tarde, a porta-voz adjunta da Otan, Carmen Romero, afirmou que Misrata seria uma prioridade da operação militar, cuja população civil seria protegida.