Título: Países do Golfo se juntam para forçar ditador do Iêmen a deixar o poder
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Fonte: O Estado de São Paulo, 07/04/2011, Internacional, p. A14

Sob a liderança da Arábia Saudita, governos árabes querem que Saleh, no poder há 32 anos, entregue poder a um conselho de transição formado por partidos de oposição e líderes tribais

Muhammed Muheisen/APFora Saleh. Protestos de opositores pedem a saída do presidente iemita na capital Sanaa Os governos da Arábia Saudita e de outros países do Golfo já articulam um acordo para que o presidente iemenita, Ali Abdullah Saleh, deixe definitivamente o poder para um conselho tribal e político. O Iêmen foi tomado nos últimos dois meses por grandes protestos, reprimidos com violência pelas forças de Saleh. Opositores exigem a saída imediata do presidente - no poder desde 1978 - e reformas democráticas.

O plano será formalmente apresentado em uma reunião na Arábia Saudita, na qual líderes árabes pretendem pressionar o presidente iemenita a renunciar e acatar pelo menos parte das reivindicações da oposição. Líderes tribais do Iêmen também participarão do encontro.

Mais de cem pessoas morreram na onda de protestos no país da Península Arábica, embora grupos independentes afirmem que o número de vítimas seja ainda maior. No dia 18, supostos agentes do governo de Saleh abriram fogo contra opositores desarmados, matando 52 civis.

O episódio levou o presidente a decretar estado de emergência, enquanto vários líderes tribais e militares anunciavam que passariam a apoiar a oposição.

"A proposta é ter, por um período de meses, um conselho administrativo capaz de abranger todos os partidos e tribos", disse um alto funcionário. "Esse conselho abrirá caminho para as eleições."

Ontem, em Nova York, o primeiro-ministro do Catar, sheik Hamad bin Jassim al-Thani, também disse esperar um acordo político em breve para por fim à crise iemenita. "Esperamos que cheguemos a um pacto", afirmou Thani a jornalistas.

"Nós (países do Golfo) nos encontramos nos últimos dias em Riad e estamos enviando uma proposta para ele (Saleh) e para a oposição. Esperamos que ocorra um encontro entre sua equipe e a oposição para tentar encontrar uma solução para esse problema", completou o líder do Catar.

O ministro das Relações Exteriores dos Emirados Árabes Unidos, xeque Abdullah bin Zayed al-Nahayan, disse que a data da reunião ainda não foi marcada. "Ainda não falamos com todas as partes", disse.

Ali Mohsen, general iemenita que se juntou à oposição e tornou-se uma das figuras proeminentes do movimento anti-Saleh, elogiou a iniciativa dos países do Golfo. Ele espera que a transição vá ao encontro das "demandas da revolução pacífica da juventude", informou um de seus assessores.

Al-Qaeda. Sob crescente isolamento, Saleh tem aumentado o tom do discurso contra a oposição. No fim de semana, ele disse a partidários em Sanaa que defenderia o Iêmen "com sangue e alma" até as eleições, marcadas para o fim deste ano.

O governo de Saleh é aliado-chave dos EUA na luta contra a Al-Qaeda da Península Arábica, cuja base operacional é no Iêmen. O governo Barack Obama, porém, já indicou extraoficialmente que não pretende apoiar o presidente contra a oposição. O Iêmen é ainda palco de duas lutas autonomistas: uma xiita no norte, outra no sul. / REUTERS

PARA LEMBRAR

Em eleição indireta, Ali Abdullah Saleh chegou ao poder do Norte do Iêmen em 1978, pouco após seu antecessor ser assassinado em um atentado atribuído ao Iêmen do Sul. Os dois "Iêmens" travavam combates intermitentes: a capital do Norte era Sanaa (a mesma de hoje), enquanto a do sul era Áden.

A queda da URSS, aliada de Áden, enfraqueceu o sul, que acabou por negociar um acordo com Sanaa. Os dois unificaram-se em 1990, formando a República do Iêmen. Cada região ficou com metade dos ministérios e Saleh foi mantido à frente do governo. Com uma estrutura política difusa e um Estado fraco, o país atraiu militantes da Al-Qaeda expulsos da Arábia Saudita.