Título: Rio ficará 4,8° C mais quente neste século
Autor: Lopes, Eugênia
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/04/2011, Vida, p. A22

Segundo estudo, região metropolitana sofrerá com aumento das chuvas e avanço do nível do mar sobre áreas costeiras

A Região Metropolitana do Rio de Janeiro terá um aumento da temperatura média de 4,8º C até o fim deste século. A expectativa é de que a região, além de mais quente, se torne também mais úmida até 2099. As praias poderão perder areia e as zonas costeiras deverão sofrer ainda mais com as inundações.

Os dados fazem parte do relatório Vulnerabilidade das Megacidades Brasileiras às Mudanças Climáticas, que será divulgado hoje, no Rio. Elaborado por um grupo de universidades e institutos, incluindo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Unicamp, Fiocruz e Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o estudo é o segundo realizado sobre os impactos das mudanças climáticas nas grandes metrópoles brasileiras. O primeiro, lançado em 2010, traçou um cenário de aumento na temperatura de até 3º C na Região Metropolitana de São Paulo.

Segundo o atual estudo, o clima no Rio já está mudando. "O clima no Rio de Janeiro deverá ficar mais quente até o final do século 21, seguindo o padrão já observado no clima presente", diz o documento. De acordo com o texto, "projeta-se aumento da maior temperatura máxima anual, da ocorrência de dias e noites quentes e da duração das ondas de calor e redução na ocorrência de dias e noites frios."

As maiores temperaturas diárias, que no período de 1961 a 1990 oscilavam em torno de 33,8 ºC, deverão chegar a 38,6 °C até 2099.

A elevação das temperaturas é uma combinação de efeitos relacionados com o aquecimento global, como o aumento no número de eventos climáticos extremos - tempestades, secas - e a elevação dos níveis do oceano. Como a região metropolitana do Rio está localizada em uma zona costeira e é uma área fortemente urbanizada, com formação de ilhas de calor, os efeitos são potencializados.

"São impactos que se combinam de forma sinérgica", diz Paulo Gusmão, professor do Departamento de Geografia da UFRJ e um dos coordenadores do estudo, ao lado do economista Sérgio Besserman.

Veneza. Segundo Gusmão, os dados são um alerta para o poder público, mas não devem ser vistos como uma catástrofe iminente. "Não estamos prevendo que o Rio irá se transformar em uma Veneza", diz. "Mas é importante que as ações de prevenção de desastres e mitigação desses efeitos sejam tomadas de forma conjunta, com a união das prefeituras", diz o pesquisador.

A elevação do nível do mar, outro efeito das mudanças climáticas, poderá transformar a paisagem fluminense. No cenário mais pessimista, o Rio poderá termais de 10% de sua área total atingida pelo avanço das águas.