Título: Brasil envelhece antes de enriquecer
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/04/2011, Economia, p. B6

Um Pais Maduro

Estudo do Bird mostra como o País está envelhecendo rapidamente e os efeitos dessa mudança no crescimento, saúde, educação e Previdência

O Brasil está envelhecendo, e muito mais rápido do que a maioria dos brasileiros imagina. As conseqüências desse avassalador processo demográfico serão profundas, e, em duas a quatro décadas, o País terá um perfil populacional inteiramente diferente do atual ¿ em 2050, o Brasil terá proporcionalmente mais idosos do que o Japão hoje, o país mais envelhecido do mundo.

Os efeitos dessa mudança no crescimento econômico, na saúde, na educação e na Previdência do Brasil serão imensos, e os prejuízos ou benefícios que ela trará ao País dependerão dramaticamente de como as políticas públicas vão enfrentar a realidade inevitável do envelhecimento.

Esse poderia ser o resumo do estudo Envelhecendo em um Brasil mais Velho ¿ Implicações do Envelhecimento Populacional para o Crescimento Econômico, a Redução da Pobreza, as Finanças Públicas e a Prestação de Serviços, que o banco Mundial (Bird) divulgou ontem no Rio. O detalhadíssimo trabalho de 200 páginas procura dar um tom otimista ao desafio que o Brasil enfrentará nas próximas décadas, afirmando que o País pode envelhecer e enriquecer ao mesmo tempo, mas traz uma enxurrada de dados e análises preocupantes.

Em termos absolutos, havia 2,6 milhões de idosos (60 anos ou mais) no Brasil em 1950, 19,6 milhões em 2010 e haverá 64 milhões (a atual população da França) em 2050. Em termos relativos, os idosos correspondiam a 4,9% da população em 1960, e passaram-se 60 anos antes que aquela proporção dobrasse para 10,2% em 2010. Nos 40 anos seguintes, o porcentual vai triplicar, para 29,7% da população. A idade mediana (a mais freqüente) dos brasileiros saltou de 18,6 anos em 1970 para 29 anos em 2010, e atingirá 45,6 anos em 2050.

Retiro de crescimento. O ritmo de crescimento da população idosa no Brasil desde 1950 é incomparavelmente maior do que o das crianças até 14 anos, e o dos adultos de 15 a 59. A partir do atual século, a diferença de velocidades disparou ainda mais. A população idosa terá crescido em 100 anos, de 1950 a 2050, 24 vezes. No mesmo período, o número de adultos terá aumentado quatro vezes, e o das crianças, apenas 43% . A população como um todo está projetada para crescer quatro vezes naquele período.

Em 2050, haverá duas vezes mais idosos no Brasil do que crianças. O número de nascimentos no Brasil já começou a declinar, tendo atingido 3,6 milhões por ano na média de 2000 a 2005, e 3,1 milhões entre 2005 e 2010. A projeção do banco Mundial é de que esse número caia para 2,1 milhões entre 2045 e 2050. A população como um todo deve chegar a 218 milhões em 2050, quando já terá começado a diminuir.

Um dos grandes problemas demográficos brasileiros, que afeta também outros emergentes, é que o País está envelhecendo muito mais rápido do que as nações desenvolvidas: ¿Os países ricos primeiro ficaram ricos, e depois ficaram velhos¿, resume o estudo. Assim, a França levou mais de um século para que seus habitantes com mais de 65 anos saltassem de 7% para 14% da população, os Estados Unidos levaram quase 70 anos, e a Espanha mais de 40. Já o Brasil fará a mesma transição em apenas duas décadas, de 2011 a 2032.

O trabalho também chama a atenção para a questão do bônus demográfico no Brasil. A expressão refere-se a uma etapa especialmente favorável ao crescimento econômico da evolução demográfica dos países, quando o grupo das pessoas em idade de trabalhar cresce mais rápido do que a chamada população dependente ¿ crianças (até 15anos) e velhos (60 ou mais). O Brasil está em pleno bônus demográfico, mas este deve acabar em 2020, quando a proporção entre potenciais trabalhadores e dependentes deve começar a diminuir.

O banco Mundial faz uma complexa analise sobre as conseqüências do fim do bônus demográfico no Brasil, e algumas das previsões são até surpreendentemente boas, dependendo de quão firme sejam os governos em implementar políticas previdenciárias não necessariamente populares.

Jovens. Mas também impressiona nesse tema a disparada dos dependentes idosos em relação à população em idade ativa. Hoje, os velhos correspondem a 11% dos que têm idade de trabalhar. Em 2050, esse porcentual salta para 49%.

Na verdade, em meados da próximos décadas de 20, a população em idade de trabalhar começará a cair, e todo o crescimento populacional se dará pelo aumento dos idosos. Nos próximos 40 anos, a população brasileira como um todo vai se expandir a uma média de apenas 0,3% ao ano, enquanto os idosos crescerão a uma taxa de 3,2% - 12 vezes mais.

O estudo nota que o Brasil vai enfrentar o envelhecimento em ritmo dos países que, relativamente à sua renda, mais dá benefícios aos seus idoso ¿ e gasta muito mais com os velhos do que com as crianças, quando se compara a outros países. ¿O Brasil ainda tem uma população muito jovem, mas tem um nível de gastos com idosos igual ao da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico)¿, disse ontem, em seminário no Rio sobre o lançamento do trabalho, o diretor do Banco Mundial no Brasil, Makhtar Diop.

Assim, o gasto médio com educação de cada criança corresponde a 9,8% do salário médio nacional, proporção que sobe para 15,5% nos países (quase todos ricos) da OCDE. Por outro lado, OCDE tem um benefício previdenciário médio equivalente a 30,4% do salário médio, enquanto o Brasil atinge 66,5%.