Título: Otan ''não está fazendo nada'', acusa rebelde
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Fonte: O Estado de São Paulo, 06/04/2011, Internacional, p. A11

O comando militar dos rebeldes líbios criticou ontem duramente os bombardeios da Otan - não por sua violência, mas por supostamente deixar de proteger civis e forças opositoras. Abdel-Fattah Younis, um dos principais líderes antirregime, afirmou que a aliança atlântica "não está fazendo nada" para derrotar o Exército e mercenários do ditador Muamar Kadafi.

A Otan admitiu ontem que suas bombas mataram rebeldes líbios no fim de semana, no que qualificou de um "infeliz acidente" causado como reação dos aviões aliados aos tiros para o ar realizados pelos rebeldes.

Younis reclamou da burocracia da Otan, que levaria horas para responder às evoluções no campo de batalha. "Ou a Otan faz direito seu trabalho, ou nós vamos pedir ao Conselho de Segurança da ONU que suspenda (a ofensiva)", ameaçou. Ainda de acordo com o comandante rebelde, as forças aliadas são "muito lentas" e estão permitindo que o regime líbio avance. "Isso se tornou um problema nosso."

No fim de fevereiro, as forças de Kadafi estavam prestes a tomar Benghazi, centro político da oposição, mas o início dos bombardeios aliados virou o jogo e os rebeldes retomaram cidades-chave da região costeira, obrigando o regime a recuar.

A queixa dos opositores veio à tona no dia em que a Otan anunciou uma importante mudança tática na ofensiva. Segundo o comando da aliança, o critério na escolha de alvos e na realização dos ataques será revisto, pois Kadafi passou a usar civis como escudos humanos.

Após varrer forças do regime para longe de Benghazi, no leste da Líbia, os bombardeios da Otan estão concentrados na cidade de Misrata, perto de Trípoli. A população levantou-se contra Kadafi e o ditador não conseguiu debelar completamente a rebelião. Atiradores de elite e a principal brigada do regime tentam sufocar a oposição.

Petróleo. O comando rebelde disse ontem que, nos próximos dias, deverá ser realizada a primeira exportação de petróleo da "Líbia livre". Segundo a BBC, um navio que está ancorado em Tobruk, cidade no extremo leste da Líbia, está sendo carregado e deverá partir "em breve".

O cargueiro teria bandeira liberiana e pertenceria a uma companhia grega. Especialistas estimam que o navio seria capaz de transportar o equivalente a 1 bilhão de barris de petróleo. Segundo informações não confirmadas, a carga deveria seguir até o Catar - primeiro país árabe a reconhecer os rebeldes como legítimo governo da Líbia.

Até o início do conflito, a Líbia era o terceiro maior exportador de petróleo da África, vendendo 1,6 milhão de barris por dia. Segundo analistas, o petróleo líbio é de qualidade superior ao de outros países árabes. Os principais poços da Líbia situam-se no leste - hoje controlado pelos rebeldes. Com a retomada nas exportações, a oposição tenta financiar o esforço militar.