Título: EUA levantam sanções contra desertor líbio
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Fonte: O Estado de São Paulo, 06/04/2011, Internacional, p. A11

Ex-ministro de Kadafi que fugiu na quinta para Londres deixa lista do governo americano

O governo de Barack Obama retirou na segunda-feira o cerco financeiro imposto contra Moussa Koussa, chanceler do regime de Muamar Kadafi que fugiu para a Grã-Bretanha na semana passada. A medida, diz a Casa Branca, busca incentivar outros funcionários de alto escalão de Trípoli a desertar.

Mas a decisão de descongelar as contas bancárias de Koussa e permitir que ele faça negócios normalmente incomodou setores dos governos americano e britânico.

O conhecimento íntimo que Koussa tem do círculo governante líbio - que provavelmente está sendo transmitido às potências aliadas - pode ser precioso. Mas ele atuou como chefe da inteligência e chanceler, e estaria envolvido em atos de terrorismo e assassinato nas três últimas décadas. Koussa teria ordenado o assassinato de dissidentes, o treinamento de terroristas e o atentado que derrubou o avião da Pan Am sobre Lockerbie, em 1988.

"Ele era tanto o braço esquerdo como o direito do regime, um sanguinário", disse Dirk Vanderwalle, um professor em Dartmouth e especialista em Líbia. Brian P. Flynn, um nova-iorquino cujo irmão morreu no atentado de Lockerbie, disse que o levantamento das sanções deixou ele e outros parentes das 270 vítimas aborrecidos. Eles acreditam que Koussa teve um papel na organização do atentado, e procuradores escoceses pediram acesso a ele.

"É tudo lógico no jogo diplomático que eles precisam jogar", disse Flynn, vice-presidente da organização das Vítimas do Voo 103 da Pan Am. "Mas a que custo? Ele é suspeito de assassinato em massa."

Incentivo. Os EUA apressaram-se para dizer que a retirada das sanções, impostas no dia 15, não tinha nenhuma implicação sobre a investigação de crimes que Koussa possa ter cometido no exercício de seu cargo. A investigação americana sobre Lockerbie nunca foi encerrada e o FBI estaria tentando conversar com Koussa.

David S. Cohen, subsecretário do Tesouro dos EUA, disse que as sanções contra o ex-chanceler líbio foram retiradas porque ele não era mais uma autoridade do governo de Trípoli. Koussa renunciou ao cargo antes de fugir.

"Um dos propósitos das sanções contra autoridades de alto escalão do governo líbio foi motivar indivíduos do regime de Kadafi a tomar a decisão correta e se dissociarem de Kadafi e do seu governo", disse Cohen.

Segundo ele, outras 13 autoridades líbias estão na lista dos que enfrentam as sanções, que congelaram todas as contas em jurisdição americana e proibiram companhias americanas de fazer negócios com eles.

A fuga de Koussa para a Grã-Bretanha ocorreu três décadas depois de ele ter sido expulso do país após dizer a um jornalista que apoiava a perseguição e assassinatos de opositores de Kadafi. "Aprovo isso", declarou o então jovem diplomata em 1980.

Além do atentado de Lockerbie, o governo líbio forneceu armas e explosivos para o Exército Republicano Irlandês (IRA) e foi responsável pelo assassinato de uma policial britânica, atingida por um tiro disparado de dentro da embaixada líbia em Londres, em 1984. / THE NEW YORK TIMES

Na mira do TPI O procurador do Tribunal Penal Internacional (TPI), Luis Moreno-Ocampo, que investiga supostos crimes contra humanidade cometidos por Trípoli, pediu acesso ao ex-chanceler Moussa Koussa