Título: BCE eleva juros após quase 3 anos
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/04/2011, Economia, p. B8

Depois de 33 meses, Banco Central Europeu anuncia aumento da taxa de juro de 1% para 1,25%, para combater a inflação na zona do euro

Uma página da crise econômica na Europa foi virada ontem. Depois de 33 meses de estabilidade, o Banco Central Europeu (BCE) anunciou a elevação da taxa básica de juros. A mudança, anunciada pelo presidente da instituição, Jean-Claude Trichet, é suave: de 1% para 1,25%. Segundo a autoridade monetária, a ameaça da inflação pesa mais hoje do que a crise das dívidas soberanas na periferia do bloco.

A elevação da taxa foi anunciada por Trichet no início da tarde de ontem, em Frankfurt, após o encerramento da reunião do comitê de política monetária da instituição. A iniciativa se antecipa às decisões do Federal Reserve (Fed), o banco central americano, e do Bank of England (BoE), cuja taxa de juros deve subir até o verão, segundo a expectativa de analistas.

A motivação do BCE não surpreendeu os mercados: é a inflação, que não para de crescer há sete meses na zona do euro, o conjunto de 17 países que adota a moeda única. Nesse intervalo, a alta anualizada dos preços foi de 1,6%, em agosto de 2010, para 2,6% em março passado, acendendo o sinal amarelo em Frankfurt. "O ajuste da política monetária se justifica à luz dos riscos de alta pesando sobre a estabilidade dos preços que nós identificamos", argumentou Trichet, revelando disposição de perseguir o teto da meta inflacionária.

Segundo o presidente, a decisão evitará antecipações de inflação na zona do euro, permitindo a manutenção do objetivo do BCE, de manter a taxa de inflação logo abaixo de 2% em médio prazo. Além disso, é necessário impedir a reprodução do aumento do preço das matérias-primas no conjunto da economia. "Essa ancoragem é um pré-requisito para que a política monetária possa contribuir ao crescimento na zona do euro."

No futuro próximo, o mercado financeiro já começou a apostar ontem em uma taxa básica em torno de 1,75% até o fim do ano. Trichet, claro, não aceitou fazer previsões, mas deu a entender que a alta de ontem pode não ser isolada. "Nós não decidimos que seria a primeira de uma série de altas. Mas faremos sempre o que julgarmos necessário para assegurar a estabilidade dos preços em médio prazo", ponderou.

Diante de uma alta já prevista, os investidores receberam a notícia da elevação dos juros com tranquilidade. Em Londres, o índice FTSE500 teve ligeira queda de 0,56%, enquanto em Paris o CAC40 perdeu 0,49%. Em Frankfurt, o DAX recuou 0,50%. Ao contrário do que se esperava, o dólar não subiu após a elevação dos juros. No fim da tarde de ontem, ? 1 era negociado a US$ 1,4260, abaixo de US$ 1,43 registrado pela manhã - seu valor mais alto desde janeiro de 2010.