Título: Líder, Humala se distancia de Chávez
Autor: Miranda, Renata
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/04/2011, Internacional, p. A13

Enviada especial/Lima

Líder nas pesquisas de intenção de voto para a eleição presidencial de amanhã, o nacionalista Ollanta Humala marcou ontem distância do presidente venezuelano, Hugo Chávez, pedindo que ele não se intrometa nas eleições peruanas. Antigos amigos - Chávez apoiou abertamente a candidatura de Humala nas eleições de 2006 -, o candidato deixa a Venezuela de lado e diz se inspirar no "modelo brasileiro" de democracia e desenvolvimento.

No entanto, quando questionado se era mais próximo de Chávez ou do ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, Humala esquivou-se. "Sou mais próximo do povo peruano", afirmou em entrevista coletiva para a imprensa estrangeira em Lima.

O candidato também fez questão de ressaltar seu compromisso com o crescimento da economia e com a liberdade de expressão. O candidato, que lidera as pesquisas, evitou falar em possíveis alianças com outros partidos para o segundo turno. "Seria uma falta de respeito com o eleitorado peruano falar disso antes do 10 de abril", disse.

Verdades e mentiras sobre Humala enchem as páginas dos jornais peruanos diariamente. A única certeza entre os analistas políticos é a de que Humala, com 28% das intenções de votos, já tem lugar praticamente assegurado no segundo turno, marcado para 5 de junho.

Militar da reserva natural de Lima, Humala, de 48 anos, liderou, com seu irmão Antauro, em 29 de outubro de 2000, uma fracassada tentativa de golpe contra o presidente Alberto Fujimori. Ele foi preso após a ação e logo depois anistiado. Em 2005, depois de ocupar postos de adido militar na França e na Coreia do Sul, ele retornou ao Peru para dar início à sua carreira política e, um ano depois, concorreu à presidência contra Alan García.

Humala venceu o primeiro turno com 30,6% dos votos válidos, mas tanto o discurso agressivo do candidato como os estreitos laços com Chávez fizeram com que ele perdesse a eleição.

"Em comparação à campanha de 2006 parece que são dois candidatos completamente diferentes", disse a analista política peruana Jacqueline Fowks. "O discurso mudou, a ideologia mudou e até as roupas que ele usava mudaram."

Apesar das mudanças, Humala ainda sofre para convencer investidores estrangeiros de que não é uma ameaça para a estabilidade do país. Mas os eleitores duvidam da nova imagem do candidato. "Ainda não decidi em quem votarei, mas já tenho certeza para quem meu voto não irá", disse o motorista Ulisses Morales. "Humala é comunista e não merece governar o país porque todo o progresso que tivemos nos últimos anos será perdido."

Se em 2006 Humala vestia-se de vermelho e não escondia a amizade com Chávez, em 2011, ele usa roupas mais formais de cores neutras e faz questão de ressaltar a proximidade com Lula. Segundo Jacqueline, depois de participar, em fevereiro, das comemorações dos 31 anos do Partido dos Trabalhadores (PT) no Brasil, Humala fez questão de divulgar fotos dele com Lula para a imprensa peruana.