Título: Para analistas, alta da gasolina é inevitável
Autor: Mendes, Karla
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/04/2011, Economia e Negócios, p. B1

Rio

O mercado financeiro recebeu com ressalvas e ainda sem entender qual foi o recado que o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, quis mandar ao dizer que a Petrobrás está pressionando por um aumento de preços, mas o reajuste não sai porque a presidente Dilma Rousseff não permite.

Sem querer entrar nas discussões, os analistas comentam que veem na fala de Lobão apenas uma demonstração política da disposição de Dilma em conter a inflação, às vésperas de um anúncio de reajuste da Petrobrás.

O consenso entre cinco analistas consultados é de que, se o atual nível de preços se mantiver nas próximas duas semanas, a alta da gasolina e do diesel será inevitável no início de maio, mesmo que apenas parte da defasagem seja repassada.

De acordo com o Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), a gasolina está 25% mais barata no Brasil do que no mercado americano, usado como referência. Já o preço do diesel, estaria 15% mais baixo e o GLP 40%. Se repassados integralmente, o consumidor teria uma alta de 7% na gasolina e de 10% no diesel.

O CBIE estima que a estatal deixou de ganhar R$ 1 bilhão no primeiro trimestre por não ter repassado a alta do preço do barril de petróleo. "A Petrobrás não estava pressionando muito até esta última disparada esta semana, com o barril indo até US$ 128. Agora, começa a ser criada uma bolha que está cada vez mais difícil segurar", comentou um analista que preferiu se manter no anonimato para "não entrar em discussões políticas".

Em relatório distribuído ao mercado, a corretora Link Investimentos se mostra cética quanto a uma rápida solução para o impasse entre o que quer o governo e o que pretende a Petrobrás. "Os interesses são distintos, já que um reajuste de preços dos derivados elevaria os resultados da Petrobrás, mas colocaria em xeque a capacidade do governo de controlar a inflação dentro da meta", avalia o relatório.

Os analistas da Link alertam para o fato de o impasse gerar uma crise entre o presidente da empresa, José Sérgio Gabrielli, e o governo federal, nos mesmos moldes da que derrubou o presidente da Vale, Roger Agnelli.

Colchão. Para o analista do Banco do Brasil, Nelson Rodrigues de Mattos, apesar da defasagem de preços do diesel e da gasolina, é preciso lembrar que a companhia acumulou um "colchão" nos últimos dois anos, ao manter seus preços acima do mercado internacional. "Ninguém reclamou no mercado financeiro", disse, destacando que, com a medida, a empresa evitou que seu caixa ficasse volátil. Cálculos do CBIE apontam que a estatal lucrou R$ 26,5 bilhões ao não reduzir seus preços no mercado interno, acompanhando a queda do barril por causa da crise global.

O analista questiona o fato de vários críticos mirarem a Petrobrás com argumentos de que a estatal estaria perdendo ao não repassar a alta do barril a seus principais produtos. Segundo Mattos, a companhia está ganhando com as exportações e com o repasse para outros produtos - como QAV (querosene de aviação), óleo combustível e nafta. "Certamente este ganho vai contribuir com os resultados da empresa referente ao primeiro trimestre deste ano."

Gangorra

4,97% foi a queda no preço do etanol hidratado nas usinas de S. Paulo nesta semana

6,97% foi a alta do preço do etanol anidro, no mesmo período

Diferença A referência do plano de negócios da Petrobrás era de um barril a US$ 80. Na média, ficou em US$ 105 no primeiro trimestre, e o dólar 2% abaixo da média do último trimestre de 2010.