Título: Índice de Atividade do BC mostra economia em desaceleração
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Fonte: O Estado de São Paulo, 14/04/2011, Economia, p. B1

- O Estado de S.Paulo

O Índice de atividade do Banco Central (IBC-Br) teve variação de 0,3% em fevereiro na comparação com janeiro. Esse cálculo toma por base a série com ajuste sazonal, ou seja, aquela que permite comparações mês a mês. Isso representa uma desaceleração em relação ao dado de janeiro, que teve crescimento de 0,7% ante dezembro.

A média móvel trimestral do crescimento do IBC-Br (medida análoga à do Produto Interno Bruto) aponta crescimento de 1% no trimestre terminado em fevereiro, crescimento igual ao visto no trimestre terminado em janeiro e no 4º trimestre de 2010. Ou seja, o cálculo trimestral não mostra alteração desde o fim do ano passado.

O dado do IBC-Br no 4.º trimestre havia apontado crescimento trimestral de 1% , mas o PIB divulgado pelo IBGE cresceu apenas 0,7%. As magnitudes dos dois dados (IBC-Br e PIB) nem sempre são comparáveis, mas os dois se moveram na mesma direção (aceleração no 4.º trimestre).

A relevância do dado está no papel que a demanda tem sobre a inflação, em adição aos choques de preços, à inércia e às expectativas. A interpretação mais exagerada em relação à demanda é a de que se estabilizou ou se está estabilizando.

Para muitos analistas, o crescimento do PIB considerado "potencial" (aquele que não acelera a inflação) é entre 1% e 1,2% por trimestre. O dado do IBC-Br, portanto, sugere que o crescimento da atividade não está acima do que pode ser considerado "potencial".

O efeito do ciclo de alta da taxa básica de juros (Selic) ainda não se fez presente (em média, isso leva de 7 a 9 meses para ocorrer), assim como os efeitos das medidas macroprudenciais adotadas pelo BC desde dezembro ainda não apareceram totalmente. Desse modo, é cabível concluir que a demanda vai desacelerar adicionalmente, fazendo o PIB crescer abaixo do potencial, condição para que a inflação ceda.

O dado divulgado pelo BC deve ter efeito indireto sobre a inércia e as expectativas. Menos pressão de demanda sendo atribuída à política econômica ajuda a reduzir certa recalcitrância dos formadores de opinião - e de preços - a respeito do compromisso do governo com a convergência da inflação para a trajetória das metas, ainda que em prazo dilatado e recorrendo-se ao teto da banda (6,5% para o ano).

Cabe ao governo perder a vergonha de fazer crescer os gastos abaixo do PIB, de modo a consolidar a desaceleração, e ao BC seguir com a combinação de política monetária e medidas macroprudenciais. Os próximos passos podem esclarecer o recado do Relatório Trimestral de Inflação:

"Considerando as expectativas de desaceleração da atividade doméstica, bem como a complexidade que ora envolve o ambiente internacional, entre outros fatores, a estratégia de política monetária pode eventualmente ser reavaliada, em termos de sua intensidade, de sua distribuição temporal ou de ambos."