Título: Para Bird, Brasil deve cortar gasto público e conter o real
Autor: Kuntz, Rolf
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/04/2011, Economia, p. B4

Banco Mundial diz que há espaço para a redução maior nos gastos, o que reduziria a pressão sobre a política monetária

CORRESPONDENTES/ WASHINGTON e ENVIADA ESPECIAL - O Estado de S.Paulo

O Brasil tem de reduzir os gastos públicos o mais rápido possível, advertiu ontem o Banco Mundial (Bird), além de conter a valorização do real com consciência da impossibilidade da reversão completa desse quadro.

O conselho ao governo brasileiro destoou do tom mais conciliador do Fundo Monetário Internacional (FMI) com relação à situação herdada pelo governo Dilma Rousseff e a seus compromissos de ajuste. Anteontem, o Fundo mostrou-se otimista com o cumprimento da meta fiscal prevista para 2011, de superávit primário equivalente a 3% do Produto Interno Bruto (PIB).

"Há espaço para a redução maior nos gastos públicos brasileiros. Quanto mais rápido isso acontecer, melhor será. Até porque abrirá mais espaço para a política monetária", afirmou Augusto de La Torre, economista-chefe do Bird para América Latina e Caribe, com o cuidado de igualmente elogiar o empenho brasileiro na área fiscal.

O melhor ajuste nas contas públicas brasileiras, com cortes de gastos públicos, permitiria a redução dos juros no País com menor pressão inflacionária. Da mesma forma, o Banco Mundial reconheceu como genuínas as medidas de controle de capital adotadas para evitar o excesso de valorização da moeda brasileira. Porém, ao abordar o problema em relação à toda região, De La Torre advertiu para a necessidade de a América Latina "aprender a conviver com suas moedas valorizadas". "É de se esperar que as moedas fiquem mais fortes por causa de fatores ligados aos melhores fundamentos."

Desafio. O controle da inflação, do ponto de vista do Banco Mundial, é um dos principais desafios da América Latina e do Caribe ao longo do ano, muito atrelado ao histórico de crescimento econômico apenas temporário.

A expansão da atividade em 2010 foi de 6%, em média. Neste ano, deverá oscilar entre 4% e 5%, partindo de uma base melhor. Porém, a capacidade produtiva limitada continua a pressionar os preços domésticos e, com isso, gerar travas monetárias ao crescimento econômico em períodos longos. "Ainda não sabemos se a região está em um voo de galinha ou em um voo de águia", resumiu De La Torre.

Além desse limitador doméstico, América Latina e Caribe ainda enfrentam riscos externos nessa fase "madura" de recuperação da crise de 2008.