Título: Alta do IOF breca fluxo, mas dólar continua a cair
Autor: Kuntz, Rolf
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/04/2011, Economia, p. B4
Moeda americana passou a sair mais do que entrar no País desde 26 de março, mas cotação continua abaixo do piso informal de R$ 1,60
BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo
Depois do aumento duplo do Imposto de Operações Financeiras (IOF) nas operações de empréstimos externos, o governo brecou o fluxo de entrada de dólares no País, mas não conseguiu conter a queda da moeda americana em relação ao real, que permanece abaixo do piso informal de R$ 1,60.
O fluxo cambial em abril até o dia 8 fechou negativo em US$ 14 milhões, sinalizando que a queda do dólar continua influenciada por operações especulativas no mercado futuro de câmbio de aposta na continuação da alta do real. Com a divulgação dos dados, o mercado passou a apostar que o governo vai baixar regras para diminuir a exposição cambial dos bancos.
Desde o momento em que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, aumentou pela primeira vez o IOF para empréstimos externos, o fluxo cambial passou a ficar negativo em vários dias. Segundo dados divulgados ontem pelo Banco Central (BC), em 26 de março - data do primeiro aumento do IOF para empréstimos externos, que atingiu operações de até um ano - até 8 de abril, o fluxo cambial esteve negativo em US$ 227 milhões. Dos nove dias úteis desse período, seis foram de fluxo negativo. A partir do dia 6, quando o governo estendeu a cobrança para captações de até 720 dias, o fluxo fechou negativo em todos os dias (até o dia 8).
Antecipação. Os dados do fluxo também mostraram que, temendo ações restritivas, os bancos e empresas anteciparam as operações de crédito externo, principalmente em meados de março. No ano, o fluxo cambial bateu recorde com entrada líquida de US$ 35,57 bilhões, 46% mais que em todo ano de 2010.
Para o diretor executivo da NGO Corretora, Sidnei Moura Nehme, os dados do fluxo cambial são a "prova" de que no Brasil não é o mercado à vista que faz a cotação do dólar, mas sim as operações cambiais no mercado futuro. Segundo ele, a redução do fluxo faz com que o BC não precise comprar tantos dólares no mercado, mas não resolve o problema da queda do dólar.
Nehme destacou que o BC tem de reduzir ainda mais as restrições dos bancos nas chamadas posições vendidas de dólar, que são apostas na alta do real. Segundo ele, o BC deve surpreender o mercado e não dar um prazo longo para adotar a medida. Em janeiro, o BC restringiu essas operações, mas deu 90 dias para o ajuste dos bancos, que só começou a valer neste mês.
Apesar de divisões na equipe econômica em torno da estratégia de política cambial, o derretimento do dólar ante o real segue como grande preocupação no governo, como apontou a presidente Dilma Rousseff em viagem à China. Segundo fonte ouvida pelo Estado, novas medidas devem ser acionadas pelo governo, inclusive uma maior restrição nas operações em dólar dos bancos no mercado futuro.
Operações
US$ 35,57 bi é o saldo do fluxo cambial neste ano. O valor corresponde a 46% mais que em todo o ano de 2010. Em abril, até o dia 8, após novas ações do governo, o fluxo cambial fico negativo em US$ 14 milhões