Título: Varejo recua em fevereiro após nove altas seguidas
Autor: Rosa, Vera ; Trevisan, Cláudia
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/04/2011, Economia, p. B5

Analistas se dividem em relação aos efeitos das medidas macroprudenciais sobre o consumo, que pressiona inflação

As vendas no varejo recuaram 0,4% em fevereiro, informou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na primeira queda em relação ao mês anterior após nove resultados positivos consecutivos. Em relação a fevereiro de 2010, o varejo avançou em todos os setores, com alta de 8,2%.

Os dados dividiram analistas entre os que já viram efeitos das medidas de desestímulo ao consumo e os que ainda esperam sinais consistentes do freio do governo para conter a inflação.

Para Reinaldo Pereira, gerente da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) do IBGE, a queda em fevereiro, após avanço de 1,1% em janeiro, deve ser vista como "uma acomodação". "Além disso, fevereiro não costuma ser forte nas vendas após o Natal e as liquidações de janeiro", acrescentou. A média móvel trimestral de 0,2%, diz o técnico, retrata melhor o arrefecimento. "Não podemos dizer que há tendência de queda. Temos de ver os próximos meses."

Para os analistas da Rosenberg e Associados, chefiados pela economista Thaís Zara, o índice não alterou a percepção de que a demanda continuou forte no primeiro trimestre. Em relatório, projetaram alta do varejo entre 5% e 6,5% este ano, abaixo dos 10,9% de 2010, mas ainda em ritmo forte.

Já para a equipe do Bradesco, comandada pelo economista Octávio de Barros, a queda marginal na maioria das atividades indica desaceleração do comércio.

"As perspectivas para o varejo continuam favoráveis, mas vislumbramos alguma moderação adicional no ritmo de expansão dos indicadores, em linha com as medidas macroprudenciais", diz parte do relatório do banco.

Pereira, do IBGE, não acredita que medidas como o aumento do IOF nos financiamentos tenham muita influência sobre as vendas, a não ser nos segmentos de valor mais alto, mais sensíveis ao crédito. As vendas dos veículos, por exemplo, tiveram a segunda queda consecutiva em fevereiro (-1,1%), embora mais suave que em janeiro (-7,2%).

"Se o consumidor acha que a prestação cabe no seu orçamento, acaba comprando. O brasileiro geralmente não liga para os juros", disse Pereira.