Título: Tesouro busca novo perfil da dívida pública
Autor: Fernandes, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/04/2011, Economia, p. B5

Objetivo é diminuir estoque dos títulos atrelados à Selic, que têm custo mais pesado; fundos da União também são detentores desses papéis

Os fundos administrados pela União são um dos principais detentores de títulos públicos e um dos grupos de investidores que mais têm nas suas carteiras de aplicações papéis atrelados à taxa Selic. Esses títulos são justamente aqueles considerados menos favoráveis para a gestão das finanças públicas e que o Tesouro Nacional tenta há anos diminuir no estoque da dívida pública.

É que, além dos bancos e outros investidores tradicionais do mercado financeiro, os fundos administrados pela União também aplicam seus recursos em títulos do próprio governo.

Entre esses fundos, estão o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), os fundos garantidores de crédito, o Fundo Soberano do Brasil e os fundos extramercado. O perfil de investimentos desses fundos foi mostrado com a divulgação pelo Tesouro da lista dos maiores detentores de títulos públicos. O ranking, que passará a ser divulgada mensalmente pelo Tesouro a partir de agora, mostra uma fotografia mais clara dos principais "donos" da dívida pública e deve reacender o debate sobre a necessidade de uma gestão mais proativa do governo dos recursos que estão nos fundos administrados pela União.

Troca. Mesmo que boa parte do dinheiro dos fundos públicos não seja do governo, como é o caso do FGTS, o Tesouro pode trabalhar para melhorar o perfil da dívida também via segmento de investidores.

Os dados do Tesouro apontam que a carteira desses fundos, que soma R$ 170,38 bilhões, está concentrada em investimentos em Letras Financeiras do Tesouro (LFT), que são corrigidas pela variação da taxa Selic.

Os fundos administrados pelo governo têm 56% dos seus recursos investidos em títulos públicos aplicados nas LFTs. O restante está aplicado em papeis prefixados (25%) e corrigidos por índices de preços (19%).

Desde 2003, o Tesouro iniciou um programa mais intensivo de troca de títulos corrigidos pela Selic por papéis prefixados, que têm a taxa de juros definida na hora do leilão de venda. Uma dívida muito concentrada em LFTs é considerada mais vulnerável ao risco de oscilações abruptas das condições do mercado e da economia. Uma elevação da Selic, por exemplo, acaba influenciando mais pesadamente o custo da dívida.

Fatia. Do total de R$ 1,58 trilhão da Dívida Pública Mobiliária Federal Interna (DPMFi), 35,13% são de papéis indexados à taxa Selic (um montante de R$ 557,17 bilhões). Essa fatia é maior do que a dos demais tipos de títulos do governo analisados individualmente: prefixados, índices de preços e taxa de câmbio.

Os dados mostram também que os fundos de investimentos, que detêm R$ 421,53 bilhões dos títulos públicos, também concentram aplicações em papéis atrelados à taxa Selic. A carteira dos fundos em títulos públicos é composta por 57% de LFTs, 22% de prefixados e 21% de papéis corrigidos pela inflação.

Os bancos, que lideram o ranking dos principais detentores da dívida, têm uma carteira mais diversificada, com 32% aplicados em LFTs; 47% em prefixados e 19% em índices de preços. As instituições financeiras detêm R$ 466,17 bilhões em títulos, o equivalente a 29,4% do total da dívida.

Os fundos de investimento ocupam o segundo lugar do ranking com 26,6% do estoque da dívida, seguidos pelos fundos de previdência (14,7%), investidores estrangeiros (11,45), governo (10,7%) e seguradoras (3,9%).