Título: Brasil e China divergem sobre commodities
Autor: Trevisan, Cláudia
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/04/2011, Economia, p. B7

Para Brasil, alta dos preços não é responsabilidade de emergentes, mas China quer aprofundar debate

A excessiva volatilidade no preço internacional das commodities põe em risco a recuperação da economia global e deve ser controlada por meio do aumento da produção e da melhor regulamentação do mercado de derivativos, declararam ontem os líderes dos cinco países que compõem o grupo agora chamado de Brics - Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

No fim de seu encontro de cúpula, realizado na China, os dirigentes do bloco manifestaram preocupação com o aumento no fluxo de capitais, defenderam maior representação de países em desenvolvimento na direção de organismos econômicos multilaterais e propuseram o aumento da regulamentação do sistema financeiro internacional.

O tema das commodities dividiu o grupo e colocou em extremos opostos o Brasil e a China. O primeiro é grande exportador de produtos básicos, como soja, minério de ferro e petróleo, enquanto o segundo está entre os maiores importadores desses bens.

Especulação. O Brasil sustentou nas discussões que não se pode atribuir a responsabilidade pela alta no preço das commodities aos países em desenvolvimento, enquanto a China propôs uma discussão mais aprofundada sobre o assunto.

Apesar das divergências, os países concordaram na necessidade de conter a especulação financeira com títulos lastreados em commodities.

Os líderes querem combater de maneira especial os derivativos emitidos nem sempre com lastro na existência real de produtos.

A questão da alta no preço das commodities será um dos principais temas da reunião do G-20 que será realizada em Paris no início da próxima semana. Responsável pela presidência do grupo neste ano, o líder francês Nicolas Sarkozy colocou a regulamentação desse mercado no centro de sua agenda.

A proposta encontra eco em vários países, já que o aumento da cotação internacional desses produtos provoca pressões inflacionárias em todo o mundo, incluindo os países que integram o grupo dos Brics.

Na terça-feira, o governo da Alemanha se declarou disposto a considerar o estabelecimento de limites nas posições que investidores podem ter quando aplicam em commodities e tetos para movimentos diários de preços.

Rodízio. Na questão da reforma dos organismos multilaterais, todos os presidentes defenderam durante o encontro que haja um rodízio nos órgãos dirigentes do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, o que abriria caminho para a ocupação dos cargos por representantes dos países em desenvolvimento.

Atualmente, esses postos são ocupados de maneira alternada por pessoas indicadas por dirigentes dos Estados Unidos e da Europa. A questão do rodízio não constou da declaração final do encontro, mas, na avaliação de um integrante da comitiva brasileira, o fato de que houve consenso entre os presidentes é uma indicação de que a proposta poderá ser apresentada de maneira formal no futuro.

Novo integrante do grupo, a África do Sul participou pela primeira vez de uma cúpula dos Brics, sigla que incorporou a letra "S" do inglês South Africa. O encontro de ontem também marcou a estreia da presidente Dilma Rousseff em grandes fóruns internacionais.

Dilma ficará na China até amanhã. Hoje, ela falará no Fórum Boao, uma resposta asiática ao Fórum de Davos, que reúne representantes de governo e empresários da região.