Título: Alimentos caros ameaçam países pobres, alerta Bird
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/04/2011, Economia, p. B13

Para o Banco Mundial, commodities mais caras vão provocar inflação e pobreza, desestabilizando as nações mais vulneráveis

- O Estado de S.Paulo

Em um alerta destinado especialmente ao G-20, grupo das maiores economias desenvolvidas e emergentes, o Banco Mundial qualificou ontem os preços elevados e voláteis das commodities agrícolas como "a maior ameaça" aos países pobres. As pressões inflacionárias e o aumento da pobreza, insistiu a entidade, devem acentuar turbulências políticas e sociais em países mais vulneráveis.

O Banco Mundial registrou um aumento médio de 36% no índice de preços dos alimentos em março, comparado a igual período de 2010, um quadro semelhante à grave situação de 2008. O tema será abordado como prioridade na reunião de hoje do G-20, agendada em paralelo ao encontro de primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Segundo Christine Lagarde, ministra de Finanças da França, país que preside o G-20, a abordagem do grupo sobre o tema não será a "administração de preços". Conforme insistiu, os debates serão sobre "como evitar a volatilidade excessiva e estabelecer mecanismos de segurança".

"Os números contam uma história sinistra de persistente e esmagadora pressão sobre o mundo pobre", afirmou o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick. "Vocês estão cientes dos ingredientes: misture a alta inflação dos alimentos com a oscilação de preços e acrescente os custos mais elevados dos combustíveis e você terá uma tóxica receita para causar sofrimento real e contribuir com a agitação social", advertiu.

Pobreza. Os números são especialmente sérios. De forma geral, os preços dos alimentos em países de baixa renda são 5% mais altos do que nas economias desenvolvidas. A edição divulgada ontem do Food Price Watch, pesquisado pelo Banco Mundial, aponta para a queda de 44 milhões de pessoas para a camada abaixo da linha de pobreza - renda diária de US$ 1,25. As simulações do Banco Mundial concluíram que um aumento adicional de 10% nos preços dos alimentos significará mais 10 milhões de pobres. Com um aumento de 30%, serão mais 34 milhões. De janeiro a março, os preços do milho aumentaram 74%, do trigo, 69%, da soja, 36%, e do açúcar, 21%, em comparação com os de igual período de 2010.

O diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Khan, assinalou ser necessário "fazer o que tem de ser feito" para evitar a disparada inflacionária nesses países mais pobres, em razão dos preços de alimentos. Recomendou a adoção de subsídios à população mais vulnerável por esses países, conforme seus limites fiscais. A receita, conclui, "não é fácil de administrar". Zoellick creditou o dilema atual aos estoques baixos e ao aumento do consumo em países emergentes e recomendou o aumento da produção e da produtividade.

O Banco Mundial chamou especialmente a atenção para o possível impacto dessa situação de alta de preços de alimentos no quadro político de alguns países. Insistiu não ter sido essa a principal razão das recentes crises no Oriente Médio e no Norte da África. Porém, a inflação dos alimentos agravou o quadro de insatisfação popular. De acordo com o Food Price Watch, apontou para inflação de alimentos de dois dígitos no Egito e na Síria. / COLABOROU LUCIANA ANTONELLO XAVIER