Título: Inflação de março põe Copom sob pressão
Autor: Fernandes, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/04/2011, Economia, p. B5

Tombini vai para sua 3ª reunião sobre juros sem ter obtido sucesso em conter o mau[br]humor do mercado

Fabio Graner

Depois de ter sinalizado que o ciclo de aperto monetário estaria perto do fim e que a taxa básica de juros (Selic) poderia subir em um ritmo menor, a alta da inflação em março - acima do esperado até pelo governo - e a incerteza sobre o grau de desaceleração da economia tornaram mais difícil a tarefa do Banco Central (BC).

Enquanto a maior parte dos economistas trabalha com alta de 0,50 ponto porcentual na Selic, o mercado de juros futuros mostra que há uma divisão entre quem aposta em 0,25 ponto e quem aposta em alta de 0,50 ponto, com maior peso para o primeiro grupo (0,25 ponto).

Além da piora da inflação e da incerteza sobre o ritmo da economia, as expectativas do mercado financeiro para a inflação estão piorando, aumentando a pressão sobre o BC.

Na última semana, a pesquisa Focus, realizada pelo BC junto ao mercado, mostrou que a projeção central do mercado para a inflação neste ano é de 6,26%, já bem próximo do teto de 6,5% da meta de 2011. Na semana anterior, a previsão era de 6,02%.

O presidente do BC, Alexandre Tombini, adicionou dúvidas ao dizer, na sexta-feira, que "estamos no meio de um ciclo de aperto monetário". A declaração foi interpretada como indicação que o processo de alta na Selic não deverá parar em abril.

Tombini vai para sua terceira reunião à frente do Comitê de Política Monetária (Copom) sem ter obtido sucesso em conter o mau humor do mercado. Apesar do esforço do governo de mostrar que o BC tem sido o mais ativo do mundo no combate à inflação, utilizando alta de juros, medidas prudenciais e um aperto fiscal, grande parte dos analistas ainda acha que o mix de política econômica é só um caminho para se usar menos o remédio amargo da Selic. E que isso representa um risco muito alto.

"Acredito em alta de 0,5 ponto na Selic. Mas o correto seria ir além disso, por uma questão de aversão ao risco. A estratégia pode dar certo, mas pode dar errado. É muito arriscado", diz o professor da USP, Fabio Kanczuk.

O economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, diz que a estratégia gradualista de política monetária "não será suficiente para vencer a alta da inflação e, tampouco, preservar a credibilidade do sistema de metas de inflação e da própria autoridade monetária".