Título: Êxito econômico fica longe dos mais pobres
Autor: Miranda, Renata
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/04/2011, Internacional, p. A14

Partido de García deve ser punido nas urnas por falhar em transmitir o clima da bonança estatal para a população peruana

LIMA - O principal desafio do próximo governo peruano será manter o ritmo do acelerado crescimento da economia que faz do país um dos mais prósperos da região latino-americana. O chamado "novo modelo econômico" do Peru é considerado um sucesso por especialistas do setor e faz com que o Produto Interno Bruto (PIB) aumente mais de 5% ao ano. O próximo presidente, porém, terá de contornar a principal falha do atual governo, que não conseguiu transmitir a bonança econômica para grande parte da população.

Os indicadores peruanos impressionam. Apesar da recessão mundial, a receita efetiva per capita é 49% maior hoje do que era em 2000. O coeficiente de investimento aumentou de 20%, no começo da década passada, para 27,5% em 2010. A parcela de peruanos vivendo abaixo da linha da pobreza caiu de 49%, em 2004, para 35%, em 2009. Fora isso, nos últimos dez anos, o Peru firmou quatro acordos de complementação econômica e nove tratados de livre comércio.

O êxito econômico do país tem como base a "combinação de boas políticas e sorte", segundo relatório do Banco Mundial divulgado no fim do mês passado.

O fator sorte vem do aumento do preço de metais no mercado mundial - o país é o maior produtor de prata no mundo, além de também ser rico em cobre, zinco e ouro. As boas políticas, que abriram quase totalmente o mercado do país ao capital externo, vêm sendo adotadas desde o começo da década de 90, quando o presidente Alberto Fujimori assumiu o poder.

Entre as medidas implementadas estão a queda de boa parte das barreiras fiscais para a entrada de investimento estrangeiro; a busca pela estabilidade dos preços; e o controle de uma das mais ferozes das hiperinflações que dilapidaram a economia de quase todos os países da região entre os anos 80 e 90. Em 1990, a inflação peruana chegava a 7.481% - uma situação que implicava a duplicação de preços em menos de 24 horas.

"Os altos índices de inflação só foram controlados depois que o governo implementou um programa rigoroso de fiscalização econômica que ajudou a estabilizar a economia", afirmou o economista Gianfranco Castagnola, da consultoria Apoyo. "A partir da década de 90, a presença de reguladores do Estado se reduziu, tratados de livre comércio foram assinados e a economia se voltou para a exportação, consolidando a base para o crescimento significativo da economia que verificamos atualmente."

A melhora da economia influenciou também na transição de classes da sociedade peruana. Nos últimos cinco anos, 3,5 milhões de pessoas que antes estavam na pobreza passaram a fazer parte da classe média do país. "Esse novo setor emergente tem hoje uma alta capacidade de consumo", explicou Castagnola.

Embora a pobreza tenha diminuído, ainda há muito a ser feito. A falta de investimento do Estado em programas sociais é um dos grandes motivos da impopularidade do presidente Alan García que, com 26% de aprovação, não conseguiu fazer um sucessor e deixou seu Partido Aprista Peruano com chances remotas de triunfo na votação de hoje.

Programas sociais, aliás, que forjaram a base do governo de Fujimori entre 1990 e 2000. Embora alvo de críticas em razão de suspeitas de corrupção e supostas violações de direitos humanos, a administração fujimorista investiu centenas de milhões de sóis em atividades de inclusão social, criando cooperativas que iam da confecção de artesanato à atividade pesqueira e eram geridas - sob supervisão oficial - por membros das comunidades mais pobres do país. "Os benefícios do crescimento de hoje não chegaram a todos", afirmou o analista Miguel Palomino, do Instituto Peruano de Economia. "O próximo ocupante do Palácio de Pizarro terá de melhorar a capacidade de gestão do Estado, que tem recursos, mas opera mal porque não sabe como empregar o dinheiro público."