Título: Brasil e China evitam caneladas diplomáticas
Autor: Paraguassu, Lisandra ; Rosa, Vera
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/04/2011, Economia, p. B1

Chancelarias dos dois países acertaram um acordo para evitar constrangimentos durante a visita de seis dias da presidente Dilma

BRASÍLIA - O Brasil não reconhecerá a China como economia de mercado, mas também não vai crucificar em público o seu maior parceiro comercial por causa da política de câmbio que atormenta os empresários brasileiros. O acordo foi acertado entre as chancelarias dos dois países para evitar constrangimentos durante a visita de seis dias que a presidente Dilma Rousseff fará à China.

Dilma começará seu roteiro por Pequim, onde ficará dois dias, e terá encontro com o presidente da China, Hu Jintao. Na quinta-feira, ela participará da 3.ª Cúpula dos Brics, que será realizada em Sanya. O encontro formalizará a entrada da África do Sul no grupo e vai discutir temas como Rodada Doha, situação internacional - com destaque para os conflitos no mundo árabe - e o futuro da economia mundial. Na sexta, Dilma estará no Fórum Econômico, em Boao, o "Davos" da Ásia.

"É evidente que a questão cambial será discutida, mas se trata de uma negociação mais técnica, que tem seus fóruns apropriados", disse a embaixadora Maria Edileuza Fontenele Reis, subsecretária-geral de Política no Itamaraty, numa referência à Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível (Cosban). "Não há tema que seja tabu nessa relação." O assunto poderá entrar até na declaração conjunta ao final da visita, desde que retrate a visão dos dois lados que os problemas cambiais são fruto de um "desequilíbrio econômico mundial" - fato sobre o qual Brasil e China, na visão dos dois governos, têm pouca responsabilidade.

Economia de mercado. A China gostaria de ver concluído o processo destinado a reconhecê-la como economia de mercado. Nas conversas privadas, autoridades daquele país pretendem cobrar de Dilma o compromisso fixado no memorando de entendimento assinado pelo governo Lula, durante visita do presidente Hu Jintao ao Brasil, em novembro de 2004.

O governo brasileiro, porém, pretende empurrar o máximo possível essa decisão, que precisa de regulamentação no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio - que não virá. "Vamos reiterar nossa disposição. Mas, por acordo firmado com a Organização Mundial de Comércio (OMC), a China será considerada economia de mercado em 2016", diz a embaixadora.

Na falta de acordo, porém, as diferenças foram guardadas para os diálogos reservados. O governo brasileiro alega que naquele mesmo memorando a China se comprometeu a adquirir aeronaves da Embraer e a fazer investimentos em infraestrutura, mas os acordos não vingaram.