Título: Objetivo principal é diversificar exportações
Autor: Paraguassu, Lisandra ; Rosa, Vera
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/04/2011, Economia, p. B1

Governo brasileiro vai negociar com Pequim a redução das tarifas para produtos com valor agregado

PEQUIM

Diversificar as exportações brasileiras é o principal objetivo da agenda econômico-comercial da visita que a presidente Dilma Rousseff realiza nesta semana a Pequim, sob crescente pressão da indústria nacional por medidas que contenham os estragos provocados pela concorrência chinesa.

A intenção é abrir novos mercados, obter sinal verde para investimentos brasileiros na China e garantir as vendas de aviões da Embraer, o único produto de alto valor agregado que aparece na pauta de exportações para o país asiático.

A tarefa não é fácil, especialmente se for considerada a diferença nas políticas cambiais, na taxa de juros, na carga tributária e na infraestrutura dos dois países. Em todos esses itens, a China nada de braçada. "Nós temos de identificar e construir cadeias produtivas onde haja complementaridade no setor industrial", diz o embaixador do Brasil na China, Clodoaldo Hugueney.

No ano passado, três produtos básicos responderam por 80% das exportações brasileiras ao país. Na mão contrária, 95% das importações da China foram manufaturados, muitos de alto valor agregado, como chips, celulares e telas de cristal líquido.

Presidente do Conselho Empresarial Brasil-China, Sérgio Amaral reconhece as dificuldades para aumentar as exportações de bens industriais, pela assimetria na competitividade entre os dois países no setor.

Segundo ele, a diversificação deve começar pelo agronegócio, segmento no qual o Brasil apresenta vantagens comparativas em relação à China. Mas isso depende de uma política industrial brasileira e de negociação com Pequim para redução das tarifas de importação de produtos com valor agregado.

Os chineses têm uma agressiva política industrial e adotam medidas de estímulo ao processamento de commodities e matérias-primas em seu território. "A alíquota para importação de soja é de 2%, mas a de óleo de soja é de 19%", exemplifica Amaral.

Na opinião de Hugueney, não há razão para o Brasil exportar soja em grão em vez de óleo de soja para a China. A agregação de valor nessa área pode ser estimulada por investimentos chineses no Brasil, como o que a estatal Chongqing Grain Group fará na Bahia, que será oficializado durante a visita de Dilma.

A empresa vai destinar R$ 4 bilhões à criação de um polo industrial de esmagamento e refino de óleo de soja na cidade de Barreiras, onde também construirá uma fábrica de fertilizantes. "Esse acordo é extraordinário e mostra que a solução é negociar", observa o embaixador.

A mesma lógica se aplica a outros produtos, ressalta Amaral: em vez de frango, o Brasil pode exportar frango processado, em vez de celulose, pode exportar papel. Mas em sua opinião isso exige uma política industrial do governo brasileiro, para desenvolver essas cadeias produtivas.

Hugueney e Amaral ressaltam que grande parte do esforço de diversificação das exportações à China recai do lado brasileiro, que deve melhorar a infraestrutura, reduzir a carga tributária e cortar os juros. Todas são questões de longo prazo, que demandarão anos para ser resolvidas.

Mas há questões fundamentais que dependem de Pequim. Entre as mais importantes está a prática de condicionar a compra de produtos de valor agregado a licenças de importação dadas pelo governo. Na prática, isso faz com que qualquer contrato realizado por empresas do país possa ser vetado por Pequim. Essa política afeta a Embraer, que já teve várias vendas barradas pela não concessão de licenças de importação. O que o governo brasileiro quer é a garantia de que os contratos realizados pela companhia serão cumpridos.