Título: Economia e inflação vão desacelerar no 2º semestre, para BC
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/04/2011, Economia, p. B7

Fato de câmbio registrar queda de níveis acima de R$ 1,8, em meados de 2010, para R$ 1,57 é prova da flutuação

O Banco Central (BC) está seguro de que a atividade econômica e a inflação vão desacelerar no segundo semestre, em consequência das medidas tomadas que contêm a demanda.

A cúpula do BC está firme na convicção de que o tripé econômico está mantido, e tem argumentos para contestar cada uma das críticas do mercado.

Nessa visão, as medidas de contenção de crédito se iniciaram no final de 2010 para lidar de fato com riscos macroprudenciais, ligados a exposições do sistema financeiro (foi a época em que os problemas do Banco Panamericano vieram à tona).

Assim, não se trata de substituir o instrumento de elevação da Selic por medidas diretas de contenção de crédito, mas sim de levar em consideração, na hora de mexer na taxa básica, os efeitos na mesma direção das ações macroprudenciais e do ajuste fiscal anunciado pelo governo(cujas metas foram cumpridas em janeiro e fevereiro).

Para o BC, os fatos desmentiram o ceticismo de parte do mercado quanto ao ajuste fiscal (incluindo a manutenção do valor real do salário mínimo) e quanto à disposição de se elevar a Selic no início do governo Dilma. Agora, esses mesmos analistas estariam se agarrando à alta da inflação corrente no primeiro trimestre para prosseguir nas críticas. Essa alta, no entanto, teria a ver com um fator totalmente diverso - a elevação das commodities acima de qualquer previsão feita no final de 2010.

Quanto ao câmbio, a queda de níveis acima de R$ 1,8, em meados de 2010, para R$ 1,57 nessa semana seria a prova de que o regime flutuante se mantém. As intervenções cambiais são para evitar exageros, que trazem risco financeiro quando o mercado dispara na direção oposta.

Octavio de Barros, do Bradesco, acha que o atual momento vai reforçar o tripé. O seu raciocínio é o de que, com a economia aquecida e a pleno emprego, há convergência entre economistas ortodoxos e heterodoxos, em torno da necessidade de conter a demanda - isto, por sua vez, legitima de forma mais eficaz a política de austeridade fiscal e a autonomia operacional do BC.

Ele nota que os BCs do mundo inteiro enfrentam um cenário internacional de enorme expansão de liquidez, choque de preços de commodities e instabilidade no mercado de petróleo. Essa combinação dá margem a uma maior ação discricionária dos BCs, em busca de um cardápio mais variado de instrumentos. O Banco Central brasileiro, nesse caso, está apenas seguindo a tendência geral.