Título: Risco Brasil fica mais perto do risco EUA
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/04/2011, Economia, p. B1

Nunca a diferença de risco entre os países foi tão pequena; melhora brasileira nos últimos anos e piora da situação fiscal americana explicam fenômeno

O risco do Brasil percebido pelos investidores globais nunca foi tão baixo se comparado ao dos Estados Unidos, considerado referência em segurança financeira. Na semana passada, a diferença entre as medidas de risco dos dois países alcançou o menor nível da história: 0,60 ponto porcentual. Ontem à tarde, estava em 0,62 ponto porcentual. Kevin Lamarque/Reuters Kevin Lamarque/Reuters Fator. Confiança nos EUA se deteriorou, diz Alan Greenspan

Esses números foram extraídos das negociações com um derivativo financeiro amplamente negociado no mercado, chamado CDS (Credit Default Swap, em inglês). Esse papel é um tipo de seguro vendido a investidores que querem se proteger de um eventual calote.

Se alguém quer comprar títulos públicos brasileiros e, ao mesmo tempo, se proteger, utiliza o CDS. Ontem, pagava 1,1% ao ano em dólar para este fim. Para se proteger de eventual problema nos EUA, a taxa estava em 0,48% ao ano. O mercado de CDS movimenta trilhões de dólares mundo afora e o do Brasil é um dos mais negociados.

O que ocorre hoje é fruto de três movimentos. "De um lado, espelha a melhora da percepção de solvência do Brasil. De outro, é fruto da enorme liquidez global", explica o economista Dany Rappaport, sócio da InvestPort Consultoria e Gestão de Recursos. "Ou seja, em relação especificamente ao Brasil, há uma razão estrutural e outra conjuntural, que catalisa a estrutural."

Ontem, a agência de classificação de risco Standard & Poor"s e o ex-presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) Alan Greenspan jogaram luz sobre um terceiro fator: uma deterioração na confiança de os EUA honrarem sua dívida. Ninguém está dizendo que a maior economia do mundo vai dar um calote amanhã ou mesmo nos próximos anos. Mas o risco de isso ocorrer tem crescido.

Do ponto de vista do Brasil, estruturalmente, as contas públicas apresentaram expressiva melhora nos últimos anos. A relação entre a dívida líquida do setor público e o Produto Interno Bruto (PIB) saiu de 60% em dezembro de 2002 para os atuais 39,9%. Isso significa que a probabilidade de o governo brasileiro não honrar o pagamento dos títulos que emite é muito baixa.

Além disso, a dívida externa foi reduzida nos últimos anos em decorrência do acúmulo de reservas internacionais. Atualmente, o País tem um colchão superior a US$ 320 bilhões.

A melhora da solvência interna e externa foi reconhecida mais uma vez há duas semanas, quando a agência de classificação de risco de crédito Fitch elevou o chamado rating do Brasil. O País está agora em um degrau ainda mais alto na escala que procura medir a capacidade de solvência de um emissor de dívida.

Liquidez. Do ponto de vista conjuntural, o mundo vive situação ímpar, que se caracteriza por enorme injeção de dinheiro no mercado pelos países desenvolvidos. Após o estouro da crise, os bancos centrais dos EUA e da Europa decidiram fazer o que se chama em economia de imprimir dinheiro. Com isso, inundaram o mundo com recursos.

Como o Brasil é visto como um porto seguro - pela solvência e pelas taxas de crescimento expressivas se comparadas às do resto do planeta -, tornou-se um receptor de uma parte dessa liquidez. "Na realidade, a queda do risco Brasil é resultado desse fluxo de capitais para cá", afirmou o economista-chefe do Banco Santander, Maurício Molan.

Em termos práticos, esse cenário significa que governo e empresas brasileiras nunca se financiaram pagando tão pouco. Mesmo quando a farta liquidez começar a secar, a expectativa é de que o País continue bem situado. "Ainda que as contas públicas não sejam uma maravilha e o governo venha aumentando os gastos ano após ano, nossa situação fiscal é melhor que a da maioria dos países desenvolvidos", afirma um analista que pede anonimato.

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