Título: Grupo de Alckmin lança campanha por prévias na escolha de candidatos tucanos
Autor: Duailibi, Julia ; Bombig, Alberto
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/04/2011, Nacional, p. A4

Aliados do governador paulista vão trabalhar para estabelecer as consultas primárias como forma de definir os nomes do PSDB nas disputas de 2012 e 2014; proposta pressiona José Serra a definir se disputará ou não a Prefeitura de São Paulo

Depois de ter vencido uma disputa que rachou o PSDB paulistano e provocou a saída de seis vereadores do partido na capital, o secretário estadual de Gestão Pública, Julio Semeghini, defende a realização de prévias para escolha do candidato tucano a prefeito de São Paulo no ano que vem.

Semeghini é o primeiro aliado de Geraldo Alckmin com cargo executivo no PSDB a assumir o que o governador paulista vem defendendo reservadamente: a definição das consultas primárias como a única forma de acabar com as disputas fratricidas que marcaram os tucanos nos seus últimos anos de fracasso no âmbito nacional.

Para o novo presidente municipal do PSDB, "o partido sempre fugiu das prévias" por acreditar que a consulta a seus filiados representa uma divisão. "Mas isso não é verdade, outros partidos se fortalecem porque têm prévias, porque ouvem as bases", disse, em entrevista exclusiva ao Estado.

O governador de São Paulo está espremido entre os grupos do senador Aécio Neves (MG) e do ex-governador José Serra (SP) no PSDB, ambos pré-candidatos ao Planalto em 2014. Em conversas privadas, Alckmin tem afirmado que as prévias são a única forma de o partido definir seu nome para a sucessão da presidente Dilma Rousseff.

No âmbito nacional, o sistema de prévias atende hoje aos interesses de Serra, derrotado por Dilma no passado após ter sido refratário à proposta de Aécio de estabelecer prévias em 2009. Agora, é Aécio quem não quer a consulta primária por entender que sua candidatura é "natural".

"Acho que, se for necessário, já para 2012 (teremos prévias). Nós temos que nos preparar. Abrir o partido, filiar jovens, permitir que as pessoas tenham representatividade. E isso é um exemplo que poderá ser usado em todas as esferas", diz Semeghini. Segundo ele, Alckmin "tem defendido as prévias no âmbito nacional". "Falei com o governador e com o Serra que, se fosse eleito presidente, iria preparar o partido para uma grande prévia, com grande abertura e participação das pessoas. E todos eles dizem que essa é a hora e que é o que o partido precisa."

O deputado Rodrigo Castro (MG), aliado de Aécio, apoia a ideia, não sem uma ponta de ironia: "Quanto mais democrático for o partido, quanto mais participação tiver, melhor. As prévias são um ideal de participação na escolha dos candidatos. É muito bom que o Julio e os companheiros de São Paulo estejam agora com essa mesma filosofia".

Pressão. Porém, em termos municipais, a defesa das prévias também é uma forma de pressionar Serra a decidir logo se aceita ou não concorrer a prefeito de São Paulo novamente (foi eleito em 2004). No entorno do governador paulista, a ideia é que Serra se decida até o início de 2012.

Segundo Semeghini, as prévias serão necessárias até se Serra aceitar o desafio. "Acho que ele será o consenso, vai inclusive unir o partido novo (o PSD, anunciado por Kassab). É um nome muito forte. Praticamente unanimidade no partido. Seria meu candidato. Mas prévia terá que ter sempre. Aí, o Serra sairá de uma prévia reconhecido, com muita gente motivada e até se achando responsável. Essa decisão precisa deixar de sair de um grupo pequeno no partido."

Crise. Semeghini assumiu a direção do partido em São Paulo há duas semanas e já teve de enfrentar uma crise com vereadores, que culminou na debandada de 6 dos 13 parlamentares do PSDB na semana passada. Os dissidentes alegaram que a direção não quis ceder espaço a eles na Executiva municipal.Na avaliação de Semeghini, o racha com os vereadores ainda é resultado da crise de 2008, quando os parlamentares apoiaram a candidatura a prefeito de Gilberto Kassab, então no DEM e com apoio velado de Serra, contra Alckmin. "Agora é um final de um processo que começou em 2008." / COLABOROU LUCAS DE ABREU MAIA

PARA LEMBRAR

Em 2002, o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva teve de enfrentar Eduardo Suplicy nas prévias do PT que definiram quem seria o candidato do partido a presidente da República. Mesmo contrariado por ser franco favorito, Lula submeteu-se à consulta e saiu vitorioso. Naquele mesmo ano ele seria eleito para o Planalto.

Quatro anos depois, o PSDB ensaiou uma consulta interna para saber se seu candidato a presidente seria José Serra ou Geraldo Alckmin, mas a proposta não vingou, a exemplo do que ocorreria na preparação para 2010, quando Aécio Neves desistiu da disputa interna após ter tentado convencer Serra a apoiar a consulta às bases.