Título: Corpos de jornalistas mortos em ataque deixam Misrata em navio
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Fonte: O Estado de São Paulo, 22/04/2011, Internacional, p. A10

Fotógrafos premiados, Tim Hetherington e Chris Hondros foram atingidos em confronto de forças de Kadafi com rebeldes

Os corpos do documentarista britânico Tim Hetherington e do fotógrafo americano Chris Hondros foram retirados ontem da cidade líbia de Misrata, um dia depois de eles terem sido mortos no confronto entre tropas leais ao ditador Muamar Kadafi e soldados rebeldes. Hetherington, indicado para o Oscar deste ano de melhor documentário pelo filme Restrepo, e Hondros, vencedor do Prêmio Pulitzer, cobriam a guerra civil no país.

O navio Ionian Spirit, que levava remédios e suprimentos para Misrata, transportou os corpos até Benghazi, capital rebelde. De lá, diplomatas britânicos e americanos preparam sua retirada para os países de origem.

Outros dois fotógrafos ocidentais feridos no mesmo ataque, na quarta-feira, o britânico Guy Martin, da agência Panos, e o americano Michael Christopher Brown, continuam internados em um hospital de Misrata. Martin ainda está na UTI, onde se recupera de uma cirurgia na perna. Brown passa bem.

As circunstâncias da morte dos dois ainda não estão claras. De acordo com um comunicado da família de Hetherington, ele foi morto por uma granada. Segundo o jornal Washington Post, os dois jornalistas estavam com soldados rebeldes na rua Trípoli, no centro de Misrata - palco dos confrontos mais violentos na cidade - quando foram atacados.

Os quatro foram levados por uma ambulância para uma tenda de triagem, ainda de acordo com o jornal. Hetherington sangrava bastante e morreu 15 minutos depois de chegar. Martin, com o colete à prova de balas parcialmente destruído e ensanguentado, pediu que os voluntários retornassem para recolher mais feridos.

A secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, lamentou a morte dos jornalistas. "Estamos particularmente entristecidos pela morte dos dois", afirmou. Ela também pediu a libertação de dois repórteres americanos presos na Líbia.

Ontem, a Casa Branca defendeu mais medidas de proteção a jornalistas em conflitos. "Repórteres em todo mundo arriscam suas vidas para nos manter informados, cobram responsabilidades de líderes mundiais e dão voz àqueles que nem sempre podem ser ouvidos", disse o porta-voz do governo americano, Jay Carney.

Documentarista premiado, Hetherington tinha no currículo o prêmio do Festival de Sundance, em 2010, por Restrepo, documentário sobre a Guerra no Afeganistão. Ele também recebeu o World Press Photo, um dos prêmios mais reconhecidos do fotojornalismo mundial, em 2007. Cercada há 40 dias pelas tropas de Kadafi, Misrata é uma das últimas cidades sob controle rebelde no oeste da Líbia, ao lado de Nalut e Zintan. / AP e AFP