Título: Sírios e brasileiros relatam tensão e incerteza no país árabe
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/04/2011, Internacional, p. A12

Famílias não têm acesso a informações e temem desordem; muitos culpam manifestantes por crise na Síria

Brasileiros que vivem em várias cidades da Síria não escondiam ontem o medo da violência no país árabe. O Estado manteve contatos telefônicos com moradores de Damasco, Tartouf e Homs, cidade que deveria receber no fim de semana uma delegação da comunidade árabe brasileira, que foi cancelada por causa dos distúrbios.

Com pouco acesso a informações e apenas a versão dos fatos transmitida pela TV estatal, muitos repetem o discurso do governo sírio, apontando que as mortes têm sido causadas pelos manifestantes, que agiriam contra as forças de ordem.

"Estamos com muito medo. A Síria sempre foi muito segura e sabíamos que nossas filhas podiam sair sem problema. Mas, sempre que se aproximam as sextas-feiras (dia do descanso, quando aumentam os protestos) ficamos com muito medo", disse Chahoud Ibrahim, um sírio que passou dez anos em São Paulo e desde 1990 vive em Homs.

"Já se transformou em um costume: ao final das orações de sexta-feira, os protestos ganham força", disse.

Ibrahim relatou que ontem a cidade de Homs estava mais calma. "As pessoas tentam voltar ao ritmo normal de suas vidas. Trabalhar, sair às ruas para compras", disse. Mas Ibrahim, cristão nascido na Síria, acredita que os protestos são organizados por estrangeiros. "As pessoas que se manifestam são jovens que recebem dinheiro de fora para atacar a polícia."

Incerteza. Homs receberia no fim de semana uma delegação da comunidade brasileira para discutir as dificuldades enfrentadas pelos imigrantes. A reunião contaria ainda com brasileiros que vivem no Líbano. Segundo a responsável pela Embaixada do Brasil em Damasco, Samia Kouzak, o encontro foi cancelado por causa da violência.

Said, um morador de Damasco que preferiu não dar seu sobrenome, também comentou por telefone que teme que seu país se transforme em um caos. "O governo prometeu reformas. Mas o que vemos é que a violência só aumentou", disse. "O povo sírio só quer paz e poder viver suas vidas de forma digna", completou Said, dono de um pequeno supermercado.

A família Izar, também da capital, não esconde que não sabe o que fazer nos próximos dias. "Esse caos não ajuda. Não sabemos o que podemos e o que não podemos fazer, onde podemos ir e se devemos ou não manter nossas atividades diárias", afirmou o pai da família que, por temer a violência, pediu que seu nome não fosse revelado. A família importa açúcar e carne do Brasil para distribuir na Síria.

Guerra de informações

BASSAM HARDAM CARIOCA, MORADOR DE TARTOUF

"A tevê estatal tem mostrado algumas cenas de violência, mas dando a notícia de que o governo reprime ataques feitos por manifestantes; também mostra que a maioria das cidades está tranquila, dizendo que 85% da população apoia o governo"