Título: É hora de voltarmos ao bom senso nesse mercado
Autor: Lima, Kelly
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/04/2011, Economia, p. B7

Contrariando todos os movimentos sinalizados anteriormente ao mercado, não somente através de declarações aos meios de comunicação, mas em correspondência enviada e posteriormente desconsiderada, a Petrobrás cancelou o aumento de preços previstos nos contratos de venda do gás nacional às distribuidoras e anunciou, na última quarta-feira, 9,7% de "redução temporária de preços" no período maio a julho deste ano.

Os cálculos iniciais apontavam prováveis 12 % de incremento, resultado da elevação da parcela fixa (mais ou menos 30% do preço) pelo IGP-M anual e elevação da parcela variável atrelada a uma cesta internacional de óleos combustíveis, que segue com algum atraso o incremento dos preços do petróleo.

Pode-se analisar essa atitude da Petrobrás com critérios objetivos ou subjetivos.

Objetivamente, o mercado de gás natural no Brasil, excetuando-se o consumo não previsível das térmicas (depende da chuva), vem sofrendo desde 2007/08 com falta de produto para contratação firme de longo prazo e sinais competitivos de preços para os mercados industrial, como matéria-prima e para uso como GNV.

As distribuidoras de gás estaduais pararam de investir e o mercado não térmico ou é menor ou está no mesmo patamar de três anos atrás. Para mudar esse círculo vicioso e desenvolver esse mercado, necessitamos de sinais claros de que teremos volumes a preços adequados em contratos de longo prazo, que incentivem a substituição de combustíveis mais poluentes.

Temos de trocar o óleo combustível e a lenha "não certificada" na nossa indústria, incentivar a cogeração e a geração distribuída, atacar o óleo diesel nas grandes cidades, promover a interiorização do gás natural e também a substituição da crescente importação de derivados do gás natural reduzindo nossa atual dependência de 70% em metanol e seus derivados e fertilizantes nitrogenados.

Como fazer isso sem sinais de preço? Impossível. Parece que finalmente a Petrobrás acordou que além dos volumes que vão advir da exploração do pré-sal, novos concorrentes estão chegando.

Do ponto de vista subjetivo, associado aos sinais de que a Petrobrás "não está autorizada" a praticar um ajuste nos preços nos combustíveis pelo aumento do petróleo no mercado internacional (se alguém souber onde está escrito que os preços são controlados, por favor nos avise), as deliberadas pressões e ameaças ao preço do álcool combustível (outro mercado livre) junta-se agora este favorzinho no preço do gás. O Ministério da Fazenda e as indústrias agradecem .

Esperamos que o bom senso, pelo menos neste caso do gás, venha a ser de longo prazo.

*SÓCIO-DIRETOR DA GAS ENERGY