Título: Primavera árabe alterou equação política palestina
Autor: Watkins, Nathalia
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/04/2011, Internacional, p. A12

Um velho verbete da gramática política palestina voltou à moda nos últimos meses na Cisjordânia e Faixa de Gaza: Revolução. Não se trata, porém, da "revolução palestina" à qual tanto se referia Yasser Arafat - um movimento guiado por um partido de vanguarda, a OLP, para fundar um Estado árabe na terra ocupada por Israel desde 1948 ou 1967. Agora, como na Tunísia, Egito, Líbia e Síria, a tal revolução se daria contra os líderes e partidos palestinos instituídos, Fatah e Hamas, por jovens sem futuro. As facções rivais não seriam o sujeito, mas o objeto da mobilização.

Ao Estado, Samaan Khory, velho conselheiro de Arafat e do Comitê Executivo da OLP, resumiu assim a mudança: "Nem o Fatah nem o Hamas estão entusiasmados com esse acordo, mas eles entenderam que os palestinos comuns estão abertos às novas ideias que circulam no mundo árabe. A "rua árabe" perdeu o medo da mão esmagadora das autoridades - e isso muda tudo".

Desde 2007, quando Hamas e Fatah travaram uma breve guerra civil que deixou cerca de 120 mortos, o ditador egípcio Hosni Mubarak vinha tentando arrancar dos palestinos uma promessa de união. Duas vezes um dos lados chegou anunciar o pacto, para ser desmentido logo em seguida pelo rival. Ontem, as facções vieram juntas a público com o entendimento, mediado no Cairo pelos revolucionários que derrubaram Mubarak.

Curiosamente, em Israel, o temor da rebelião palestina cresceu com o anúncio da reunificação. "A terceira Intifada é inevitável", alertou Aluf Benn, colunista do jornal Haaretz. Após Fatah e Hamas fazerem as pazes, o próximo passo do campo palestino será levar à ONU uma declaração unilateral de independência com base nas fronteiras pré-1967, prevê o analista. Se as Nações Unidas aprovarem a moção, os palestinos "irão à guerra" por seus direitos reconhecidos. Se "alguém" (leia-se: EUA) vetar a resolução, a frustração levará ao confronto. "Nada que Israel fizer vai impedir a violência", conclui Benn.