Título: Acionistas aprovam Vale nas obras de Belo Monte
Autor: Friedlander, David
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/04/2011, Economia, p. B7

Decisão deve ser sacramentada hoje pelo conselho de administração da mineradora

Os acionistas controladores da Vale aprovaram na segunda-feira a entrada da mineradora como sócia na hidrelétrica de Belo Monte, segundo apurou o "Estado". A decisão pode ser sacramentada hoje em reunião do conselho de administração da companhia. Pela proposta, a Vale fica com a participação dos 9% que pertenciam à Gaia Energia, empresa do Grupo Bertin que desistiu do projeto em fevereiro.

A decisão já passou por duas instâncias: primeiro, foi aprovada pelo comitê estratégico e, na segunda-feira, recebeu sinal verde em reunião da Valepar - a empresa que reúne os acionistas controladores da mineradora. São eles que determinam como os conselheiros devem votar em assembleia. A reunião de hoje será a primeira do novo conselho de administração, eleito no último dia 19.

A definição da Vale resolve um problema para o governo. O consórcio Norte Energia, montado precariamente por determinação de Brasília, venceu o leilão de Belo Monte no ano passado, mas estava incompleto desde que o Bertin desistiu de participar do projeto. Com a entrada da Vale, Brasília fecha a lacuna. Belo Monte é uma das prioridades da presidente Dilma Rousseff.

Procurada, a Vale não quis se manifestar sobre o assunto. A empresa já havia se interessado antes por Belo Monte. Em parceria com a Andrade Gutierrez, a mineradora disputou o leilão da concessão para construir e operar aquela que será a terceira maior usina hidrelétrica do mundo, atrás apenas de Itaipu e de Três Gargantas, na China.

A mineradora foi derrotada pelo consórcio Norte Energia, que agora vai passar a integrar. Antes da Vale, a Andrade Gutierrez já tinha entrado para o grupo que a derrotou no leilão do ano passado.

Retorno. A Vale deve entrar no empreendimento na condição de autoprodutora, o que significa que poderá usar parte da energia da hidrelétrica em suas operações. Na Região Norte, a mineradora tem projetos de cobre e níquel, além do minério de ferro, seu principal produto.

Fontes ligadas ao projeto afirmam que a Vale terá um retorno ao redor de 13% com o projeto, mais ou menos aquilo que esperava quando disputou a hidrelétrica no ano passado. Uma das principais dúvidas em relação ao projeto é o seu custo.

O empreendimento foi orçado em R$ 19 bilhões pelo governo, mas empresas que estudaram o projeto calcularam que ele custaria algo em torno de R$ 30 bilhões para ficar pronto.

O detalhe curioso dessa definição é que a proposta de entrar em Belo Monte foi uma das últimas medidas encaminhadas por Roger Agnelli na posição de presidente da Vale. O executivo deixa o cargo no próximo dia 20 por pressão direta do governo, que exerce forte influência na mineradora por meio do fundo de pensão Previ (dos funcionários do Banco do Brasil) e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Agnelli será substituído por Murilo Ferreira, um ex-executivo da companhia. Uma das principais críticas a Agnelli, considerada decisiva para sua demissão, foi a resistência a algumas demandas do interesse de Brasília.