Título: A Síria e a paralisia da UE
Autor: Sant`Anna, Lourival
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/04/2011, Internacional, p. A14

Os 27 membros da União Europeia se reuniram em Bruxelas para examinar a questão da Síria. As revoltas começaram há um mês no país governado pela mão dura do presidente Bashar Assad, com o apoio do poderoso Partido Baath, e onde o Exército costuma disparar balas de verdade.

No entanto, apesar da violência, todas as sextas-feiras, as ruas da Síria se enchem novamente de ira. Algumas pessoas morrem. Dois dias mais tarde, são enterradas e suas exéquias são sempre tumultuadas. O Exército volta a disparar e faz mais vítimas: as mortes causam mais mortes.

O que é que a União Europeia pode fazer? Uma intervenção como a que o Ocidente fez na Líbia? A hipótese não está na ordem do dia. Então, sanções severas? França, Alemanha, Grã-Bretanha pressionam por elas, mas não parece que ganharão a causa.

Qual é o motivo dessa paralisia diplomática? Evidentemente, as considerações geoestratégicas influem de maneira considerável: a Síria é um dos atores mais perigosos do Oriente Médio. Aliada dos iranianos xiitas, apoia os fanáticos do Hezbollah no Líbano e os do Hamas em Gaza. Damasco tem um grande potencial para criar problemas sérios. Além disso, faz fronteira com os israelenses.

No entanto, há outro fator: a ONU. Na quarta-feira, o Conselho de Segurança reuniu-se para discutir a questão da Síria. Era preciso condenar a feroz repressão exercida pelo regime de Assad contra os rebeldes, mas não foi possível obter nenhum consenso, porque dois dos membros permanentes, China e Rússia, ameaçaram vetar uma resolução.

Moscou e Pequim advertiram a ONU que são contra uma "nova ingerência externa", por julgar que poderá provocar uma guerra civil na Síria. Evidentemente, é compreensível que China e Rússia sejam hostis ao "princípio de ingerência", pois ambos os países não gostariam que, em um futuro próximo, o mesmo princípio fosse invocado pela comunidade internacional para meter o nariz na Chechênia, onde os russos também matam, ou no Tibete, onde os chineses sabem tão bem reprimir as rebeliões de monges budistas.

Parece também que os efeitos colaterais da guerra justa, mas levianamente desencadeada por Nicolas Sarkozy e pelo filósofo Bernard-Henri Lévy contra a Líbia, esfriaram o fogo dos "intervencionistas".

Foi esta pusilanimidade do Conselho de Segurança da ONU que impediu que a União Europeia votasse e organizasse sanções contra o regime despótico de Assad. "Existe, certamente, uma tendência a buscar um acordo europeu em torno do princípio das sanções contra a Síria, mas será prudente que a Europa se apresente sozinha?", questionou ontem um diplomata de alto escalão em Bruxelas. / TRADUÇÃO ANNA CAPOVILLA

É CORRESPONDENTE EM PARIS