Título: Não vejo nenhum pensador sério no Tea Party
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/05/2011, Internacional, p. A24

Com um eleitorado que exige um posicionamento ainda mais conservador, os republicanos encaram contradições no partido

ENTREVISTA - Robert Pastor, analista político

O Partido Republicano vem sendo empurrado cada vez mais para a direita. Não por força das ideias de seus pensadores, mas pelas aflições do seu próprio eleitorado. Robert Pastor, professor da American University, observa sérias contradições no discurso da legenda, derivadas da disputa pelos votos de seus eleitores. Os republicanos, porém, têm chances de impedir a reeleição do presidente americano, Barack Obama, em 2012. Tudo dependerá do desempenho da economia do país.

Colaborador do ex-presidente Bill Clinton nos anos 90, Pastor começou a entrevista concedida ao Estado prometendo falar apenas como "acadêmico".

Por que os republicanos estão apegados a sua agenda tradicional, sem ideias e projetos novos?

A estrutura da economia dos EUA mudou profunda e rapidamente nos últimos 15 anos, com aumento da desigualdade social e de custos de saúde e educação. Essa mudança gerou uma polarização na sociedade americana. Parte das pessoas está apavorada com o aumento do tamanho do Estado e com a quantidade de imigrantes, que expõe uma sensação de perda de controle. Essa camada do eleitorado tem tido uma influência desproporcional sobre o Partido Republicano. Líderes da legenda competem entre si pelo voto desses cidadãos, que representam a maioria dos republicanos, mas a minoria dos eleitores americanos. O chamado Tea Party está puxando o partido para a direita.

Como essa agenda republicana mais à direita influencia os desafios domésticos?

Os únicos pontos em que os republicanos se mostram unidos são a defesa da redução do tamanho do Estado, o corte de impostos e a eliminação do déficit público. Há uma clara contradição nessa agenda de redução de arrecadação de tributos e de ajuste fiscal. Eles não chegaram a um acordo sobre isso ainda.

E na política externa, as contradições também são aparentes?

Sim e são inúmeras. Se os republicanos estivessem no poder, teriam de demonstrar maior coerência. Parte dos republicanos é favorável ao fim do envolvimento pró-ativo dos EUA no mundo. Em especial, é contra a ajuda a outros países. O comércio exterior também não é visto como uma boa ideia por esse setor. Os neoconservadores dizem o contrário: que o movimento americano em favor da democracia em outros países é importante e desejável, particularmente em regimes que se opõem aos EUA. Nas questões do Oriente Médio e de Cuba, os republicanos não dão nenhum apoio ao governo, o que leva os democratas a atuarem com cautela. A administração Obama está fazendo muito pouco em favor de um acordo de paz entre palestinos e israelenses, acabou acusada de pender para Israel e perdeu uma oportunidade única de influenciar no futuro da região.

Qual o impacto desse posicionamento republicano na campanha eleitoral de 2012?

Tudo depende do desempenho da economia americana no ano que vem. Se a economia estiver em maus lençóis, os republicanos vão se sair bem. Se a recuperação for mais vigorosa, não. Esse será o principal fator nas eleições. Daí a necessidade de Obama acelerar a recuperação econômica se quiser ser reeleito.

Há novos pensadores no Partido Republicano?

O deputado Paul Ryan é um deles. Newt Gingrich é outro pensador, com suas ideias um pouco malucas. Não considero Donald Trump um pensador. Aliás, não o vejo conectado a ninguém no Partido Republicano. Ele é muito bom em atrair a atenção das pessoas. Mas não acredito que ninguém sério daria responsabilidade a Trump. Os três, entretanto, querem ser o candidato republicano em 2012.

E a musa do Tea Party, Sarah Palin?

Não vejo nenhuma evidência disso. Não vejo ninguém sério apontado como pensador do Tea Party.