Título: EUA entram em estado de alerta
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Fonte: O Estado de São Paulo, 03/05/2011, Internacional, p. A10

Temendo reação após morte de Bin Laden, Departamento de Estado emite alerta e orienta seus cidadãos a ter cautela no exterior

O sentimento de "missão cumprida" e a comemoração pela morte de Osama Bin Laden - diante da Casa Branca e em várias cidades dos EUA - foram substituídos ontem pelo alerta contra novos ataques da organização terrorista ao país. O Departamento de Estado emitiu nota sobre a possível reação violenta contra cidadãos americanos residentes ou em viagem ao exterior, sobretudo ao Paquistão e ao Afeganistão.

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Andy Colwell/APCelebração. Estudantes da Universidade de Penn State comemoram morte de Bin Laden em avenida central de State College, na Pensilvânia

Na Casa Branca, o assessor de Segurança Nacional, John Brenner, afirmou que a morte de Bin Laden transformou a Al-Qaeda em um "tigre ferido". A secretária de Estado, Hillary Clinton, reiterou a necessidade de os EUA "redobrarem seus esforços" na guerra contra o terror, iniciada em 2001.

"Nós cortamos a cabeça da serpente. A Al-Qaeda ficou quebrada. Mas é como um tigre ferido, ainda com vida", advertiu Brennan, para quem o novo líder da organização, o egípcio Ayman al-Zawahiri, não tem o carisma de Bin Laden e enfrenta oposição em suas próprias fileiras.

"Nossa mensagem ao Taleban continua a mesma, hoje com ressonância ainda maior: vocês não podem nos derrotar. Mas vocês podem abandonar a Al-Qaeda e participar do processo político de forma pacífica", declarou Hillary, referindo-se aos militantes do antigo regime do Afeganistão e aliados do grupo de Bin Laden.

Em cerimônia de entrega póstuma da Medalha de Honra a dois veteranos da Guerra da Coreia, o presidente americano, Barack Obama, afirmou ter sido ontem "um bom dia para a América". "Nosso país manteve seu compromisso de assegurar com que a Justiça fosse feita. O mundo está mais seguro, é um lugar melhor porque Bin Laden foi morto", declarou, omitindo sua advertência, na noite anterior, sobre inevitáveis ataques da Al-Qaeda e de seus aliados contra interesses dos EUA.

A Casa Branca evitou comentar os rumores de que setores do governo paquistanês teriam dado guarida ao número 1 da Al-Qaeda. A fortaleza de Bin Laden estava localizada em Abbottabad, a apenas 122 quilômetros da capital paquistanesa, Islamabad. A vizinhança era composta, sobretudo, por militares aposentados. Brennan deixou no ar dúvidas sobre a omissão do Paquistão e assinalou ser "essencial" a tarefa de não permitir novos ataques da Al-Qaeda a partir de bases nesse país.

Desconfiança. Há anos os EUA criticam a posição ambígua do Paquistão diante da guerra ao terror. Mas, ontem, cuidadosamente, Brennan esquivou-se de responsabilizar o governo paquistanês e de qualificá-lo como "desonesto", como foi sugerido por um jornalista, por não ter prendido Bin Laden antes. A mesma linha foi seguida por Hillary, ao enfatizar a tão criticada cooperação bilateral.

"Nossas parcerias, incluindo nossa cooperação próxima com o Paquistão, permitiu colocar uma pressão extraordinária sobre a Al-Qaeda e seus líderes. Manter essa cooperação será importante daqui para frente porque, mesmo com esse marco, não podemos nos esquecer que a batalha para conter a Al-Qaeda e sua união do terror não termina com a morte de Bin Laden", afirmou Hillary.

Em princípio, os EUA não deverão alterar seu plano de retirar boa parte de suas tropas do Afeganistão em virtude da ameaça latente de novos atentados terroristas, em represália à morte de Bin Laden.

A questão deverá abrir uma nova fonte de desavenças entre a Casa Branca e a maioria republicana na Câmara dos Deputados neste período de definição das candidaturas à eleição presidencial de 2012. Obama é candidato à reeleição. O republicano John Boehner, presidente da Casa, admitiu que a morte de Bin Laden "unificou o país". No entanto, ele alertou que o fato aumenta ainda mais a importância do engajamento dos EUA no Afeganistão e no Paquistão.

Ao assumir a presidência, Obama enviou mais 30 mil homens ao Afeganistão. Agora, ele planeja começar a retirada das tropas do país, sem que o Taleban consiga retomar o terreno.