Título: Obama mostra que acertou em retomar resposta ao 11/9
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Fonte: O Estado de São Paulo, 03/05/2011, Internacional, p. A10

A operação que levou à morte de Osama bin Laden cumpriu um objetivo nacional compartilhado por todas as correntes políticas e pelos cidadãos americanos: capturar, vivo ou morto, o autor intelectual do maior ataque que os Estados Unidos já sofreram em seu território, um massacre de quase 3 mil pessoas.

O fato de Bin Laden ter sido encontrado no Paquistão, vivendo numa mansão provavelmente construída para abrigá-lo, a uma hora da capital do país, revela o acerto da decisão estratégica que Barack Obama tomou ainda como candidato de denunciar a invasão do Iraque como um grande erro, retirar as tropas americanas do país, e retomar a resposta dos EUA aos ataques de 11 de Setembro no Afeganistão e no Paquistão. Nesse sentido, a morte do líder da Al-Qaeda certamente fortalece Obama, e poderá facilitar sua reeleição no ano que vem, já considerada provável pela maioria dos analistas em virtude das perspectivas razoáveis de continuação da lenta recuperação da economia e da ausência de adversários republicanos capazes de derrotá-lo.

Quanto à reação dos americanos ao anúncio da morte de Bin Laden, é importante não exagerar no significado das comemorações ocorridas na noite de domingo e na madrugada de segunda-feira diante da Casa Branca, no marco zero (local onde estavam as Torres Gêmeas do World Trade Center, em Nova York) e em algumas outras cidades do país. Elas reuniram não mais do que algumas centenas de pessoas, jovens marcados pelo 11 de Setembro como crianças e adolescentes.

As celebrações sublinharam o significado simbólico de vitória que a morte de Bin Laden tem na intensa campanha dos EUA contra o terrorismo - que certamente não se esgotará neste episódio. Segundo os especialistas e fontes do próprio governo, o líder da Al-Qaeda não tinha mais papel operacional relevante. Resta saber se o fim de Bin Laden o transformará em mártir e mobilizará seus seguidores para novas ações ou se será um golpe psicológico desmobilizador.

É bom lembrar que a importância política da Al-Qaeda no Oriente Médio e em outras partes do mundo é limitada. O grupo não derrubou um único governo até hoje e teve, nesse sentido, um impacto menor do que, por exemplo, as recentes revoltas populares que expulsaram ditadores no Egito e na Tunísia e ameaçam outras tiranias na região.

Nos EUA, o desaparecimento do líder da Al-Qaeda deve produzir efeitos imediatos: o reforço das medidas de precaução contra possíveis retaliações e um aumento da pressão política interna no EUA para acelerar a retirada de tropas do Afeganistão. O fim da guerra encerraria um capítulo que teve dois efeitos negativos: altos custos para a economia e a perda de prestígio internacional, motivada pela decisão do ex-presidente George W. Bush de invadir o Iraque, em 2003, ação considerada como um dos maiores erros estratégicos já cometidos pelo país.

É DIRETOR DO BRAZIL INSTITUTE DO WOODROW WILSON INTERNATIONAL CENTER FOR SCHOLARS