Título: Morte não afetará guerra no Afeganistão, diz taleban
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/05/2011, Internacional, p. A12

Em prisão domiciliar, ex-embaixador do grupo no Paquistão afirma que Bin Laden vai se tornar um mártir para militantes

Sob custódia das Forças Armadas do Afeganistão, o ex-embaixador do governo do Taleban no Paquistão, Abdul Salam Zaeef, disse ontem ao Estado que a morte de Osama bin Laden "não afetará a guerra no Afeganistão". Zaeef vive em prisão domiciliar em uma mansão no bairro de Khosh Hal Khan, em Cabul, vizinho a outra figura importante no governo dos radicais islâmicos, o ex-ministro de Relações Exteriores do Taleban, Wakil Ahmed Muttawakil.

Havia duas semanas, a reportagem visitou o local onde Zaeef é mantido, com um pedido de entrevista. Na última tentativa, um dos filhos de Zaeef informou um número de celular, pelo qual o ex-embaixador do Taleban conversou, de sua casa, com a ajuda de um tradutor. "Essa guerra é afegã e não mudará a estratégia ou os objetivos do Taleban no país", disse.

Zaeef, que prometeu processar o governo do Paquistão por tê-lo prendido e entregado às forças americanas, em 2001, disse que a morte de Bin Laden no Paquistão é "uma prova de que o saudita não estava escondido em solo afegão e, portanto, a ocupação americana no país é injustificável". Zaeef acredita que Bin Laden se tornará um "mártir" para os militantes envolvidos na resistência no Afeganistão.

Preso em Islamabad pouco após a queda do regime Taleban, Zaeef ficou detido na base americana de Guantánamo até 2005. É incerto o paradeiro dele nos anos seguintes. Zaeef reapareceu no cenário político do Afeganistão em 2007, quando foi convidado pelo rei saudita, Abdullah, para um encontro com autoridades afegãs, entre elas o presidente Hamid Karzai, que deu início às conversações de paz entre o governo e o Taleban. Em janeiro do ano passado, Zaeef ficou conhecido internacionalmente pela publicação do livro Minha vida com o Taleban.

PARA LEMBRAR

Em 1.º de dezembro de 2009, o presidente dos EUA, Barack Obama, anunciou o envio de mais 30 mil soldados americanos ao Afeganistão, em um dramático esforço para apertar o cerco contra o Taleban e acabar com a guerra. Ele também propôs o início da retirada das tropas em um prazo de 18 meses. O conflito foi iniciado em outubro de 2001, após os ataques de 11 de Setembro, para depor o regime do Taleban, que abrigava Osama bin Laden.