Título: Paquistaneses ainda têm dúvida sobre circunstância de ação
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/05/2011, Internacional, p. A12

População questiona como helicópteros dos EUA entraram no país se Islamabad realmente desconhecia operação

As autoridades paquistanesas tentaram restabelecer um clima de normalidade ontem diante das inúmeras dúvidas que ainda pairam sobre a operação americana que resultou na morte de Osama bin Laden em Abbottabad, a pouco mais de 100 km de Islamabad. O governo do Paquistão continuou negando qualquer conhecimento prévio sobre a ação militar.

Em nota, o Ministério das Relações Exteriores do Paquistão disse que a operação comandada pelos EUA causou grande preocupação por ter sido conduzida "sem autorização prévia" do governo paquistanês. A imprensa local e a população não aceitaram facilmente a declaração oficial do governo. Os paquistaneses perguntavam-se como helicópteros militares americanos podem ter conseguido furar a segurança e entrar no espaço aéreo de um país altamente militarizado como o Paquistão.

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Os EUA não têm tropas no Paquistão. As operações americanas de combate ao terrorismo em solo paquistanês eram realizadas com aviões militares não tripulados. A forma como a operação de caça a Bin Laden foi realizada pelas forças especiais americanas, dessa vez, foi "excepcional e inesperada", na avaliação do embaixador do Brasil em Islamabad, Alfredo Leoni.

"Para o governo do Paquistão a operação americana foi um constrangimento grande", disse o embaixador. Para Leoni, a principal surpresa foi o fato de Bin Laden ter sido encontrado em uma casa perto de uma academia militar. "Abbottabad é uma cidade com forte presença militar. O fato de Bin Laden estar dentro do Paquistão já seria surpresa. No máximo, acreditava-se que ele estaria escondido nas montanhas da fronteira com o Afeganistão."

Em resposta às críticas da comunidade internacional, que ontem levantavam suspeitas sobre o envolvimento do Paquistão na proteção de Bin Laden, o Ministério das Relações Exteriores defendeu a atuação das Forças Armadas e do serviço de inteligência "no combate ao terrorismo em todo o mundo". Mas não explicou como o saudita poderia estar escondido em uma mansão a poucos quilômetros da capital sem que as autoridades tivessem conhecimento de sua presença no país.