Título: Ministro nega politização da Vale
Autor: Rodrigues, Eduardo ; Veríssimo, Renata
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/05/2011, Economia, p. B6

Pela primeira vez desde o início do processo de troca no comando da Vale, o governo expôs os motivos que o levaram a intervir na escolha do novo presidente. Chamado ao Senado para explicar a participação do governo nas negociações que levaram à saída de Roger Agnelli da presidência da empresa, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, revelou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou insatisfeito com a administração da empresa durante o auge da crise financeira internacional, mas avaliou que não houve "nenhuma anormalidade" no processo e negou ingerência política.

Mantega, que participou de audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, disse que o governo poderia ter retaliado a mineradora por não ter atendido aos pedidos de Lula, mas não o fez. "Talvez tenha havido politização por parte da Vale, mas não no governo. Sempre quisemos uma decisão profissional", disse.

Agnelli foi substituído no mês passado por Murilo Ferreira, um dos diretores da empresa, depois que o governo trabalhou nos bastidores para garantir a renovação do cargo. Agnelli estava há dez anos na presidência da mineradora e resistiu à vontade do governo para que ampliasse a produção e a exportação de aço, que tem mais valor agregado que o minério de ferro. Agnelli também tentou até o último minuto permanecer no cargo.

Mantega disse que Lula ficou insatisfeito com o adiamento dos investimentos em siderurgia e com as demissões feitas pela Vale durante a crise financeira. Segundo ele, Lula usou apenas "o jus sperniandi", apelando publicamente para que a empresa evitasse as demissões. "Não vejo situação mais democrática do que essa. Publicamente, demonstrou a sua insatisfação e o senhor Roger Agnelli simplesmente ignorou", emendou.

O líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR), disse que um dos diretores do Bradesco afirmou que houve um "massacre" do governo sobre os demais acionistas para que houvesse a troca de comando na Vale. "As palavras são um pouco exageradas. Eu dialoguei com o Bradesco (um dos acionistas da Vale), com a Previ. Houve uma reunião com todos os acionistas e ninguém foi massacrado. Eles tomaram a medida autonomamente. Indicaram um técnico", rebateu o ministro.