Título: Inflação convergirá para a meta só em 2012, diz Tombini
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Fonte: O Estado de São Paulo, 04/05/2011, Economia, p. B7

Presidente do Banco Central admite que nos próximos meses o índice de preços vai superar o teto de 6,5% no acumulado de 12 meses

O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, disse ontem que o BC está tomando todas as medidas necessárias para fazer com que a inflação convirja para o centro da meta (4,5%) em 12 meses. Em entrevista ao programa "Espaço Aberto Miriam Leitão", da GloboNews, Tombini reiterou que o BC vai trazer a inflação para o centro da meta apenas em 2012 e admitiu que, nos próximos meses, o índice de preços vai superar o teto de 6,5% no acumulado de 12 meses.

A partir de maio ou junho, a expectativa do BC é de que a inflação mensal esteja rodando dentro da meta, embora a anualizada ainda esteja alta. Tombini negou que o BC tenha "jogado a toalha", ao ter admitido que a inflação só vai convergir para a meta em 2012. "Para trazer essa inflação para o centro da meta, precisamos de um horizonte um pouco mais largo", disse, ponderando que o BC brasileiro talvez seja o "mais ativo" entre seus pares na luta contra a inflação.

De acordo com ele, a política fiscal vai ajudar no combate à inflação. Confiante que a meta de superávit primário será cumprida neste ano, Tombini elogiou a qualidade do esforço fiscal: "Se olharmos os dados de março, veremos que as despesas na margem estão crescendo abaixo do crescimento do PIB".

Questionado sobre se teria de fato autonomia para enfrentar a alta da inflação, o presidente do BC lembrou que a taxa de juros subiu 1 ponto porcentual nos três primeiros meses deste ano e sofreu novo ajuste de 0,25 ponto na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de abril. "Isso não é uma corrida de 100 metros, é um processo longo. E o BC levará esse processo adiante o tempo que for necessário para fazer a inflação convergir para a meta de 4,5% em 2012."

Fluxo. Tombini negou que tenha mudado a estratégia de combate à inflação, substituindo o foco em medidas macroprudencias por instrumentos convencionais de política monetária. Segundo ele, o fluxo de US$ 35 bilhões recebidos pelo País em três meses é inédito e provoca duas preocupações: a inflação e a estabilidade financeira.

Ele ponderou que, quando houver uma reversão desses fluxos, podem ocorrer problemas na estabilidade financeira. "Estamos trabalhando junto com outros ministérios para moderar esse fluxo de entrada e mitigarmos o problema de estabilidade financeira e econômica quando esse dinheiro sair do Brasil."

O presidente do Banco Central reiterou que a política de acumulação de reservas internacionais continua a mesma. Segundo ele, a crise de 2008 demonstrou a importância de ter um colchão de reservas sólido. "Nós vamos continuar comprando. O colchão de reservas em relação ao tamanho da economia brasileira está na faixa de 14% do PIB", disse, citando a proporção de outras economias emergentes: Rússia (30%), Índia (21%) e China (entre 47% e 50%).

Sobre o impacto de um possível aumento de 14% para o salário mínimo em 2012, Tombini disse que o impacto máximo das medidas de combate à inflação ocorrerá no quarto trimestre deste ano e no primeiro trimestre de 2012. "Nós temos de levar em consideração tudo aquilo que sabemos de antemão. Temos de levar em consideração essa regra (do salário mínimo) para definir nossos passos."

Combate à inflação

ALEXANDRE TOMBINI PRESIDENTE DO BANCO CENTRAL "Para trazer a inflação para o centro da meta, precisamos de horizonte um pouco mais largo"

"O instrumento de política monetária que vai levar a inflação convergir para a meta de 4,5% em 2012 é o instrumento tradicional que está sendo usado''

"Todos os países estão lidando com inflação elevada, mas é importante termos clareza e demonstrarmos que há convergência para 4,5%"