Título: Indústria se expande 0,5% em março
Autor: Amorim, Daniela
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/05/2011, Economia, p. B8
Avanço no primeiro trimestre de 2011 é 1,3% superior ao trimestre anterior
A produção industrial brasileira subiu 0,5% em março na comparação com fevereiro, atingindo o maior patamar desde o início da série histórica, em janeiro de 1991. O avanço de 1,3% no primeiro trimestre de 2011 ante o trimestre anterior, porém, ainda não pode ser encarado como retomada. A comparação com março de 2010 mostra recuo de 2,1%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
"É preciso lembrar que o setor estava patinando de abril a dezembro de 2010", diz Rogério César de Souza, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).
A queda em relação a março de 2010 é explicada pelo carnaval, que fez com que este ano o mês tivesse dois dias úteis a menos. "Em fevereiro pode ter havido antecipação da produção, em função do carnaval em março", disse André Luiz Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do IBGE. Ele citou a isenção do IPI sobre carros, móveis e eletrodomésticos até março de 2010 como um fator que inflou a base de comparação no período.
O recuo em relação ao mesmo mês de 2010 interrompeu uma sequência de 16 altas neste tipo de comparação. No ano, a produção industrial acumula alta de 2,3% e em 12 meses de 6,8%.
O aumento no ritmo de atividade na comparação com fevereiro foi observado em 13 dos 27 setores. "A causa da expansão industrial foi a manutenção das demandas das famílias, do mercado de trabalho e crédito", explicou Macedo. "A indústria sai de um comportamento praticamente estável nos últimos trimestres no ano anterior para alta em todos os setores nos três primeiros meses de 2011."
Renda. Segundo o especialista, a produção de bens de consumo continua aquecida em função da renda do trabalhador, em alta por negociações salariais que repõem as perdas com a inflação, além do emprego em bom nível. Mas a indústria de bens duráveis deve sofrer desaceleração forte nos próximos meses por causa de políticas de contenção do crédito.
"As medidas de contenção ao crédito já são sentidas, mas o impacto deve ser maior no segundo semestre ", disse o economista Antonio Corrêa de Lacerda, professor da PUC-SP.
Souza estima uma expansão para a indústria brasileira em 2011 de 3,5% a 3,7%. Já Lacerda estima crescimento entre 5% e 5,5% ante os 10,5% registrados no ano passado. "Há uma desaceleração, embora ainda esteja crescendo. É uma acomodação do processo. Na verdade, o comércio cresce bem mais do que a indústria, baseado nas importações. A indústria está crescendo, mas também as importações estão aumentando, então o valor agregado está diminuindo", disse Lacerda.
Outra ameaça à indústria brasileira é o câmbio valorizado. Segundo a Associação das Indústrias de Móveis do Estado do Rio Grande do Sul (Movergs), mais de 60% das empresas moveleiras exportadoras em todo o País estão com dificuldades. As exportações do setor somaram US$ 700 milhões em 2010, ante US$ 1 bilhão antes da crise econômica de 2008. Este ano deve registrar US$ 500 milhões.
Impacto da contenção
ANTONIO CORRÊA DE LACERDA PROFESSOR DA PUC-SP "As medidas de contenção ao crédito já são sentidas, mas o impacto deve ser maior no segundo semestre."