Título: Britânicos devem votar contra reforma eleitoral
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/05/2011, Internacional, p. A25

Pesquisas indicam que mudanças na forma de eleger o Parlamento serão rejeitadas em votação, favorecendo os partidos Conservador e Trabalhista

Toby Melville/ReutersPreparo. Urnas são entregues em centro de votação londrino A mudança do sistema eleitoral da Grã-Bretanha, que polariza há décadas o cenário político entre conservadores e trabalhistas, deve ser rejeitada hoje pelos britânicos. Pesquisa realizada pelo instituto ICM e pelo jornal The Guardian indica que 32% dos eleitores apoiam a alteração, enquanto 68% preferem manter a legislação atual.

Grande defensor da medida, o Partido Liberal Democrata, do vice-premiê Nick Clegg, deve sair enfraquecido, um ano depois de sua ascensão ao poder.

A sondagem indica o fracasso da campanha pelo chamado "voto alternativo" (AV, na sigla em inglês), que em um mês viu o respaldo ao atual sistema aumentar 20 pontos porcentuais. Cerca de 46 milhões de eleitores devem comparecer às urnas hoje.

Pelo sistema atual, chamado "First Past the Post" ("o primeiro a passar a linha", em tradução livre, em referência às corridas de turfe), o eleitor vota em seu candidato preferido em cada distrito do país. Aquele com maior número de votos - seja com 25% ou com 75% do total - torna-se o representante da localidade no Parlamento.

Se aprovado, o AV obrigará o eleitor a fazer uma lista de candidatos, do preferido até o mais rejeitado. O ranking seria usado toda vez que um candidato não obtiver o mínimo de 50% dos votos, introduzindo a proporcionalidade na eleição. Em tese, a regra beneficia partidos de menor expressão, como o de Clegg e os verdes.

Prestes a completar um ano no cargo, o primeiro-ministro, David Cameron, é o principal cabo eleitoral do "Não". Ele definiu a reforma como "sistema obscuro, injusto e caro". Já o Partido Trabalhista se mostra dividido. O novo líder da sigla, Ed Miliband, defende a proposta, mas não obteve unanimidade.

Para analistas, a rejeição da opinião pública ao vice-premiê está por trás da rejeição à reforma. Os britânicos veem os liberais democratas como submissos aos interesses dos conservadores.

"O referendo não quer dizer se posicionar sobre o sistema eleitoral, mas assumir um lado e apoiar os políticos em que acreditamos", avalia a professora da London Metropolitan University Monica Threlfall.

Ainda assim, o governo de coalizão não parece ameaçado. Ontem, Cameron prometeu um governo sólido e eficaz até o fim de seu mandato.