Título: Temos de conviver com o câmbio, diz Pimentel
Autor: Abreu, Beatriz ; Landim, Raquel
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/05/2011, Economia, p. B1

Ministro do Desenvolvimento diz a exportadores que a tendência global é de desvalorização do dólar e o câmbio não vai mudar no curto prazo

"A taxa de câmbio não vai mudar e vamos ter que conviver com isso". O alerta foi feito pelo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, em reunião reservada, em São Paulo, com representantes de grandes exportadores do País.

Com um discurso considerado "lúcido" e "direto" pelos empresários, Pimentel afirmou que "o câmbio não vai mudar no curto prazo" porque a tendência global é de desvalorização do dólar. Ele disse ainda que "a tendência dos juros é de alta", por causa da inflação no País.

Segundo participantes do encontro ouvidos pelo Estado, o diagnóstico do ministro é que duas importantes variáveis macroeconômicas - câmbio e juros - não vão ajudar as exportações tão cedo. Portanto, continuará difícil vender manufaturados lá fora. "Mas vamos ter de conviver com isso", disse Pimentel.

Na segunda-feira pela manhã, o ministro conversou com um grupo seleto de empresários que compõem o Conselho Consultivo do Setor Privado (Conex) da Câmara de Comércio Exterior (Camex). O Conex reúne representantes de empresas como Embraer e Vale e de setores como tradings, agronegócio, montadoras, celulose e tecnologia.

À tarde, durante coletiva de divulgação da balança comercial, Pimentel disse que o real forte "não ajuda" a exportação, mas "vamos ter de conviver com esse câmbio, que não é confortável" para as empresas.

A constatação de que o câmbio seguirá valorizado não significa que o governo "abandonou" a indústria e deixou de se preocupar com os efeitos do real forte.

Compensação. Pimentel garantiu na reunião que busca maneiras de "compensar" a questão cambial e "conviver com a perda de eficiência que houve na indústria". Segundo ele, estão em gestação ações tributárias de apoio ao exportador, que devem ser anunciadas junto com a nova política industrial este mês.

A equipe do ministério também apresentou na reunião as medidas que vêm sendo tomadas para reforçar a defesa comercial, como endurecer a legislação antidumping. Pimentel reforçou que vai seguir atento às importações.

O ministro disse ainda que o governo está preocupado com a perda de "qualidade" da pauta exportadora por causa do avanço da participação das commodities. "Não temos um problema de quantidade na exportação, mas de qualidade."

De maneira geral, os empresários ficaram impressionados com a assertividade do ministro, que, "apesar de ser político, tem atitudes de um gerente, quer resolver". Mas, segundo uma fonte, "o governo se deu conta que a inflação tira voto, mas o exportador não traz voto".