Título: Cidade onde vivia líder terrorista é esvaziada
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Fonte: O Estado de São Paulo, 07/05/2011, Internacional, p. A10

Estrangeiros recebem ultimato do Paquistão para deixar Abbottabad, palco da operação que executou Bin Laden

Autoridades paquistanesas deram um ultimato aos estrangeiros para que saíssem da cidade de Abbottabad até 23h15 de ontem (horário local). Durante todo o dia, os militares tentavam impedir vizinhos da casa onde o terrorista saudita Osama bin Laden foi morto de falar com a imprensa.

Cerca de 40 moradores foram levados pelas forças de segurança para prestar depoimento. As luzes da residência estavam apagadas e a rua, bloqueada por soldados do Exército paquistanês.

À noite já não havia mais estrangeiros no local. A ordem de expulsá-los teria sido dada pelo chefe do Estado-Maior das Forças Armadas paquistanesas, general Ashfaq Parvez Kayani.

Com exceção feita aos muros altos da Academia Militar e outras instalações das Forças Armadas, como o hospital militar, Abbottabad é um vilarejo rural, com pequenos estabelecimentos e vendas que funcionam com geradores a diesel.

Em um desses estabelecimentos, Zul Qurwin, de 22 anos, diz ainda esperar por uma prova de que Bin Laden um dia viveu na cidade.

Outro morador, o policial Matik Aman, também duvida que o homem mais procurado do mundo vivesse ali. "Você acredita mesmo que Bin Laden estava escondido nesse fim de mundo?"

Segundo ele, a ordem que recebeu é a de livrar-se dos estrangeiros e retomar a rotina da cidade. Ainda de acordo com o policial, as mansões vizinhas da casa onde Bin Laden se escondia são ocupadas por militares de alto escalão.

A rua de terra da casa de Bin Laden começa e termina no mesmo ponto: a Academia Militar do Paquistão. A avenida principal de Abbottabad, que leva até a academia, é bloqueada. O final da rua da casa do terrorista dá nos fundos da Escola do Exército. Ambos os acessos são monitorados por câmeras de segurança.

Reunidos no mercadinho da esquina, como o fazem os homens das cidades de interior no Brasil, moradores repetiam a teoria que, acreditam, explica o episódio da morte de Bin Laden: "Osama mais Obama é igual a drama". Ou seja, tudo teria sido uma armação. Uma mentira dos Estados Unidos.

Para Niaz Khan, de 30 anos, o saudita pode até ter vivido mesmo ali, mas já estava morto muito antes da operação. "Naquela casa nunca vimos movimento nenhum", conta. Nascido no bairro, o agricultor aponta sua pequena horta na frente do mercadinho, a uma quadra da casa do líder da Al-Qaeda. "O que esse homem faria aqui?"

Acesso protegido. Abbottabad fica em uma área montanhosa. Para chegar à cidade, é necessário acessar a rodovia principal de Islamabad, a capital do Paquistão. Depois, pega-se uma pequena estrada de mão dupla onde caminhões coloridos, ônibus velhos, carroças e pedestres disputam o asfalto sem acostamento nem sinalização.

A estrada atravessa as pequenas cidades de Hasan Abdel e Haripur, também áreas militares. Até Abbottabad, há três postos de comando do Exército, onde só passa um carro de cada vez.

"Não é possível alguém se esconder aqui, você entende?", diz Asif, um corretor de imóveis de 33 anos cujo terreno onde fica a casa de Bin Laden tinha sido de seu avô. "Ou os EUA inventaram essa história para aumentar a popularidade do presidente Obama ou nosso governo e militares estão mentindo."

Dia calmo. Ontem, a primeira sexta-feira - dia sagrado para muçulmanos - depois do episódio, protestos contra a morte de Bin Laden eram esperados em Islamabad e em Abbottabad. Mas as ruas das duas cidades permaneceram tranquilas.